Uma questão que sempre me fez pensar é o verdadeiro significado da felicidade. Hoje li "Admirável mundo novo", de Aldous Huxley, o que me fez refletir mais uma vez sobre o assunto. Este livro traz uma sociedade próxima da perfeição: As pessoas não sofrem, não envelhecem, não há guerras, fomes ou crimes... em suma, tudo perfeito. Mas há algumas manchas nessa civilização. O soma, por exemplo. Soma é uma droga alucinógena, que pode causar letargia e inconsciência. As pessoas no livro usam o soma para esquecer suas dores, sufocar sentimentos mais exarcebados (proibidos pelos tabus sociais), ou simplesmente para descansar depois de um dia de trabalho. Com o tempo, a vida passa a ser inconcebível sem o soma, os usuários tornam-se incapazes de suportar um enfrentamento com a vida real.
Outro ponto de interesse na sociedade descrita é o método de procriação da espécie. Nesse mundo utópico (ou seria distópico?) as pessoas não nascem, são decantadas. Produzidas em fábricas, sob um modelo típicamente Fordista (inclusive seguindo o modo de produção em série de larga escala), lá elas são educadas, ou melhor dizendo condicionadas com métodos pavlovianos a nunca questionar o Estado, a nunca confrotar os modelos sociais e a principalmente nunca desejar o que não podem ter.
Para o Estado nesse livro, a estabilidade social se confundia com o fim da emoção. Os cidadãos eram condicionados a viver de modo infantil, repugnando qualquer forma de interação social que contenha cargas sentimentais. Além disso, a ilusão de felicidade era resultado de seu condicionamento a nunca desejar o que não podem ter. Eles viam todos os seus desejos supridos, mas únicamente porque seus desejos eram balizados pela vontade estatal, que inclusive usava esse poder para criar uma massa de consumidores fiéis.
Enfim, a felicidade deles era na verdade ilusória. Esperem, será mesmo? O que é a felicidade? Hoje não estamos próximos disso? Vejo o tempo todo pessoas fugindo de suas dores, fugindo da realidade, pessoas consumindo inconscientemente, pensando aquilo que as dizem para pensar... e mesmo assim, aparentemente felizes. Será que a tomada de conhecimento da própria individualidade é algo tão importante que valha a pena perder essa felicidade, mesmo sendo ela supostamente falsa?
Bem, dizem que a felicidade é própria dos homens simples. É mais fácil ser feliz se você não tem planos, se você não tem grandes desejos, e principalmente se você não questiona. Mas é uma felicidade inócua. Não há um verdadeiro sentido por trás disso. A vida só se reveste de uma finalidade, ou de uma efetividade legítima, quando é dura, quando é pensada. Pode parecer ruim complicar tanto as coisas. Por que não agir como os outros e apenas aproveitar as sensações enquanto a vida te leva? Porém no fim isso de nada vale! Os beijos conquistados mostram-se insípidos e as paixões rapidamente se apagam. Viver assim é como estar sempre dopado, você uma hora começa a acordar e então precisa de uma dose maior pra voltar ao estupor.
Então, já me alongando mais do que devia, chego a conclusão que embora seja difícil e cansativo viver preocupando-se com sentimentos, ética ou verdades, é a única forma nobre de se viver. Rejeito tais facilidades. Mais vale um amor conquistado estoicamente que mil prazeres gratuitos. Não pensem que sou algum maluco, masoquista ou exagerado. Apenas não consigo conceber a idéia de uma vida que não proponha desafios, que só exista através relacionamentos artificiais e paixões efêmeras.
Até breve, caros amigos.
** "O antro mais escuro, o lugar mais propício, a mais forte sugestão do nosso pior demônio, nada poderá jamais transformar minha honra em desejos impuros." - William Shakespeare ( A Tempestade, IV, 1)
Outro ponto de interesse na sociedade descrita é o método de procriação da espécie. Nesse mundo utópico (ou seria distópico?) as pessoas não nascem, são decantadas. Produzidas em fábricas, sob um modelo típicamente Fordista (inclusive seguindo o modo de produção em série de larga escala), lá elas são educadas, ou melhor dizendo condicionadas com métodos pavlovianos a nunca questionar o Estado, a nunca confrotar os modelos sociais e a principalmente nunca desejar o que não podem ter.
Para o Estado nesse livro, a estabilidade social se confundia com o fim da emoção. Os cidadãos eram condicionados a viver de modo infantil, repugnando qualquer forma de interação social que contenha cargas sentimentais. Além disso, a ilusão de felicidade era resultado de seu condicionamento a nunca desejar o que não podem ter. Eles viam todos os seus desejos supridos, mas únicamente porque seus desejos eram balizados pela vontade estatal, que inclusive usava esse poder para criar uma massa de consumidores fiéis.
Enfim, a felicidade deles era na verdade ilusória. Esperem, será mesmo? O que é a felicidade? Hoje não estamos próximos disso? Vejo o tempo todo pessoas fugindo de suas dores, fugindo da realidade, pessoas consumindo inconscientemente, pensando aquilo que as dizem para pensar... e mesmo assim, aparentemente felizes. Será que a tomada de conhecimento da própria individualidade é algo tão importante que valha a pena perder essa felicidade, mesmo sendo ela supostamente falsa?
Bem, dizem que a felicidade é própria dos homens simples. É mais fácil ser feliz se você não tem planos, se você não tem grandes desejos, e principalmente se você não questiona. Mas é uma felicidade inócua. Não há um verdadeiro sentido por trás disso. A vida só se reveste de uma finalidade, ou de uma efetividade legítima, quando é dura, quando é pensada. Pode parecer ruim complicar tanto as coisas. Por que não agir como os outros e apenas aproveitar as sensações enquanto a vida te leva? Porém no fim isso de nada vale! Os beijos conquistados mostram-se insípidos e as paixões rapidamente se apagam. Viver assim é como estar sempre dopado, você uma hora começa a acordar e então precisa de uma dose maior pra voltar ao estupor.
Então, já me alongando mais do que devia, chego a conclusão que embora seja difícil e cansativo viver preocupando-se com sentimentos, ética ou verdades, é a única forma nobre de se viver. Rejeito tais facilidades. Mais vale um amor conquistado estoicamente que mil prazeres gratuitos. Não pensem que sou algum maluco, masoquista ou exagerado. Apenas não consigo conceber a idéia de uma vida que não proponha desafios, que só exista através relacionamentos artificiais e paixões efêmeras.
Até breve, caros amigos.
** "O antro mais escuro, o lugar mais propício, a mais forte sugestão do nosso pior demônio, nada poderá jamais transformar minha honra em desejos impuros." - William Shakespeare ( A Tempestade, IV, 1)
3 comentários:
bem, só tenho dois pontos a comentar:
1- o que você chama de "falsa felicidade", na minha opnião é uma "ausência de tristeza".
2- Se você nunca assistiu Equilibrium, assista. Ele fala exatamente sobre uma sociedade na qual essa pessoas tomam uma droga que as impede de sentir e, consequentemente, de refletir sobre o mundo que as cerca, sendo vítimas de um regime facista. Além disso, o filme tem cenas de ação incríveis.
a primeira fala:
DuPont: "In the first years of the 21st century, a third World War broke out. Those of us who survived knew mankind could never survive a fourth; that our own volatile natures could simply no longer be risked. So we have created a new arm of the law: The Grammaton Cleric, whose sole task it is to seek out and eradicate the true source of man's inhumanity to man - his ability to feel."
Esse livro é aquele da música da Pitty? hiueheiuheiue
Muito interessante sua análise. E esse felicidade das pessoas manipuladas me faz lembrar algum país... me fugiu o nome agora. Lá tem político que assume mandato com mais de 70% dos votos. Ah, tem um detalhe: ele estava preso por manter trabalhadores em regime de escravidão (mas é só um detalhe). Alguém disse que o conhecimento não nos torna mais felizes, mas eu prefiro conhecer. Deve ter sido xico-xavier heuiehiueheiu
sabia que eu conhecia esse jovenzinho ai de cima. Essa história me parecia estranhamente familiar cofcofSormanycofcof.
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