quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Sofrer com a alma

Manoel Bandeira disse que os corpos se entendem, mas as almas não. Com o perdão do poeta, eu discordo. Não consigo ver essa separação, somos um inteiro, corpo e alma, e só agimos de modo completo com um e outro.
Apesar disso, sabe-se lá porquê, com o tempo nos acostumamos a viver em parte. Amamos aos pedaços, muitas vezes como Bandeira imaginou (talvez de maneira menos poética, porém), só com os corpos. Ou então, nos contentamos com um amor platônico, que não deixa de ser amor pela metade. Mas isso não é o mais dramático. A grande tragédia é o sofrer incompleto e, principalmente, a tristeza de sofrer só com a alma. Um mal - tipicamente masculino, mas não exclusivo - que revela toda desumanidade de que se é capaz. Afinal, imagino que não há nada mais humano do que chorar, armar um barraco e ficar um tanto desequilibrado quando se machuca. Isso é normal. Assustador e ser frio, incapaz de botar nada pra fora, mesmo que o coração esteja prestes a arrebentar o peito. Nós sim, somos os anormais.
O sintoma dessa doença? Os olhos secos e um inexplicável desejo de dormir.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Angra dos Reis

É muito curioso que poucas línguas tenham alguma palavra que seja um bom sinônimo de saudade. Me admira que essa seja uma das palavras mais difíceis de se traduzir, sendo que representa um sentimento tão fácil de se sentir. Só não é tão fácil de descrever; saudade parece que tem a ver com distância, mas a falta que eu sinto das pessoas que estão longe no passado, que é distância maior do que jamais se percorre, parece pouca perto da saudade que eu sinto de quem tá a um dia de viagem daqui. Também parece que tem a ver com perda, mas a dor de estar longe do que se tem hoje ofusca qualquer lembrança daquilo que se foi há tempos.

Muita coisa dá saudades. Às vezes paro pra pensar e lembro de pessoas que amei com tanta força que não sei dizer que não amo mais. E ai sinto saudades delas. É uma vontade sem tamanho de ligar só pra dizer um oi e poder ouvir uma voz querida. Ou então lembro de dias em que o tempo parecia feito pra ser gasto e sinto uma nostalgia boa. Ou talvez - e com que frequência acontece! - penso em alguém realmente especial, tão incrível que podia fazer os dias ficarem longos e os meses tão curtos!

No meio dessas memórias que ora passam flutuando, ora colam na mente, me vêm a lembrança de um cartão-postal, jogado em meio a um monte de outros, que eu vi muito longe daqui. Um cartão que, pensando melhor, até explicava bem o que é sentir saudade. Ele trazia escrito, numa letra fina e corrida: "A distância entre nós, contada em milhas, é imensa. Mas se contada em pensamentos, é como se você estivesse do meu lado"

Frase do dia: "Saudade é solidão acompanhada" - Pablo Neruda