quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

As luzes


"Não! Segure minha mão...! Nããão!!!"

Não! Oh droga. De novo aquele pesadelo. Vejo-a caindo num abismo e não importa o quanto eu tente, não consigo alcançá-la. Faz o que, uma ano que ela foi embora? Acho que é isso. Que fome, preciso comer alguma coisa. Ainda ofegante levanto e vou até a geladeira. Ótimo, pizza gelada e leite, é só o que tem. Enfim, nada com que eu não esteja acostumado. O barulho da chuva na janela parece ensurdecedor. Mas ouço lá fora as sirenes, as buzinas, os gritos. Posso ver daqui as luzes da cidade, o ritmo frenético da madrugada aqui. Mas que droga de pizza, tá especialmente ruim hoje. Deve estar estragada. Engulo mais um pedaço.

Por que me sinto tão sozinho? No meio de todo esse movimento, de toda essa correria, me sinto sozinho. Parece que sou invisível. Sempre foi assim, até que um dia ela me viu. Mas agora ela se foi, pra onde eu não sei. Será que um dia eu vou conseguir te esquecer? Ligo o som e me aproximo da janela, a chuva continua forte lá fora.

Uma forma familiar me chama a atenção. Minha cabeça dói. É ela que eu vejo pela janela? Flutuando na noite, no mesmo vestido branco que usava na última vez que eu a vi. Empurro o vidro que me separa dela. Sinto-me tonto. Alguém bate na porta. Cambaleando, subo no parapeito. É dificil me equilibrar. Mais batidas na porta. Moro no vigésimo andar, lá embaixo tudo parece tão calmo, e tão pequeno. A música soa alta, não ouço mais nada. Mas percebo que tem alguém gritando do outro lado da porta. Quem será? Não importa mais. Abro os braços pra sentir a chuva pelo meu corpo. vou pra frente e pra trás, num suave balanço. A porta abre. Esqueci ela destrancada? Vejo as luzes girar num flash e caio.

Alguém me puxou pra dentro. Caído no chão da varanda, olho devagar pra pessoa a minha frente. Tão linda, minha amiga. O que faz aqui? Au, ela me dá um tapa. Está chorando. Por quê? Será... por mim? Ela me abraça. Fecho os meus braços e volta do seu corpo. Ela me encara com os olhos úmidos. Cada vez mais perto. Até que nossos lábios se tocam.

Uma doce lembrança, ela será assim pra mim. Mas agora já foi. Vamos sair da chuva. Estou acordado agora.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Stop that tank!!

É, meia-noite chegando, queria postar alguma coisa mas estou sem idéias.
Então pra que pelo menos esse seja um tópico útil, aprendam com Walt Disney como operar um rifle anti-blindados.

http://www.youtube.com/watch?v=-XEcZS9WZs8&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=marXJGUcX_Q&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=XAo0GQSz_90&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=WcMr0Pj5nfM&feature=related

**Um revólver é um grande argumento, mas um fuzil é uma verdade científica - André Dahmer

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Palavras ao vento


Nessa noite sem luar
A brisa doce levou meus versos
Cantos frágeis da minha alma
Voando no ar dispersos

Quando você estiver sozinha,
Num dia tão gelado e cinzento
E precisar de alguém ao seu lado
Ouça bem o som do vento.

Ele vai te levar minhas palavras
Longe de mim, ou onde for
não importa onde você estiver,
Será uma canção de amor.

Perdão pela pobreza do post, mas escrevi esse poeminha agora. Bem eu tinha prometido mais uma historinha (como se alguém quisesse muito...) mas não tive tempo de escrever. em breve eu faço. Enfim, coisas muito boas aconteceram, nada que mude a situação, mas está bom assim. Fico alegre com tudo o que já tenho. É menos do que eu quero, mas é mais do que eu mereço =P

Abraços a todos, de um lobo muito mais feliz.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Sentimental

O quanto eu te falei que isso vai mudar
Motivo eu nunca dei...
Você me avisar, me ensinar,
falar do que foi pra você, não vai me livrar de viver!

Quem é mais sentimental que eu?!
Eu disse e nem assim se pôde evitar...

De tanto eu te falar, você subverteu
o que era um sentimento e assim fez dele razão...
pra se perder no abismo que é pensar e sentir

Ela é mais sentimental que eu!
Então fica bem...
...se eu sofro um pouco mais...

"Se ela te fala assim, com tantos rodeios,
é pra te seduzir
e te ver buscando o sentido
daquilo que você ouviria displicentemente.
Se ela te fosse direta, você a rejeitaria."

Eu só aceito a condição de ter você só pra mim
Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir... e rir.

Hehehe, o pessoal anda dizendo que eu estou muito sentimental, melancólico e tal. Daí eu lembrei dessa música do Los Hermanos, da qual eu gosto muito, aliás. Mas calma minhas crianças, não estou triste. Não muito. Esse foi o melhor verão que eu já tive, muita coisa boa aconteceu, não só no verão como nos meses anteriores, então só tenho motivos pra estar alegre ^^

Até amanhã, trarei uma outra historinha pra vocês o/

**"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o
sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. " - Clarice Lispector

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Meu uivo...

Meu uivo é o lamento da escuridão
É o som da tristeza que corta a noite
Mas não é só dor
A razão do meu canto
Esperança ainda guardo
Pois se meu uivo alcança o céu
É teu o nome que eu chamo



quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Vitória sangrenta



Naquela ensolarada manhã de março, as crianças brincavam na grama e os pássaros cantavam. Nossos escudos decoravam as salas, e nossas espadas estavam rombudas, encostadas pelos cantos. Achávamos que aquela seria uma primavera tranquila, como sempre. Porém os deuses tinham outros planos para nós.

Os primeiros sinais chegaram com a fumaça, vinda da fronteira norte. Depois com os mensageiros que disparavam pela estrada em direção ao Caër. Inconscientemente, todos se preparavam para o que viria, e antes que qualquer ordem fosse dada, todas as espadas da aldeia estavam afiadas e prontas para o combate.

Logo vieram os homens do Rei, convocando todos os guerreiros. Eu já havia lutado pelo meu povo antes, mas há anos os lanceiros não eram necessários, e os mais jovens nunca haviam experimentando o frenesi da batalha.

Fomos levados a um acampamento no norte, a três dias de viagem das nossas casas. Próximo demais. Não sabíamos exatamente quem era o inimigo, algo comum na vida de um lanceiro. Provavelmente um dos muitos povos que viviam nos planaltos congelados do norte.

Durante semanas ficamos inertes no acampamento, até que uma alvorada rubra nos trouxe hordas de inimigos. Uma coneta soou e eu reuni os poucos homens que comandava, nos juntamos ao resto do exército e marchamos, prometendo aos deuses sangue, dos inimigos ou o nosso. Formamos uma parede de escudos e encaramos o invasor. Milhares de homens barbudos e altos brandiam machados, ocupando os morros além de nossas vistas. Então avançamos.

Eu estava na primeira fila da parede de escudos e quando os exércitos se chocaram fui esmagado pelo peso dos homens das fileiras de trás, me empurrando contra o inimigo. Usei minha lança na barriga de um lanceiro invasor, e a deixei lá. Fiz força e abri espaço suficiente para sacar minha espada, quando uma lança encontrou um brecha entre os escudos e passou abaixo do meu braço, atingindo o lanceiro atrás de mim. Senti o odor de hidromel no hálito do oponente à minha frente e o encarei, antes de golpeá-lo no rosto com a espada. Avancei pela brecha deixada por ele, mas fui parado por enorme nortista agitando um machado duplo. O bárbaro me atingiu o escudo com força e cai de costas. Então ele ergueu o grande machado para um segundo golpe e nesse momento estoquei com a espada e atravessei seu peito.

Durante todo o dia lutamos com a paixão e o furor necessários à guerra. Nossas espadas brilhavam vermelhas e nos sentiamos como mensageiros da morte. Muitos amigos morreram, mas o campo estava banhado em sangue inimigo. Nossa promessa aos deuses estava cumprida.

Festejamos à noite e partimos ao alvorecer. Saíamos de um inferno para cair em outro. Encontramos mulheres e crianças mortas. As cabeças dos lanceiros que haviam ficado para guardar a aldeia enfeitavam sinistramente o portão quebrado. Aparentemente um grupo de nortistas contornara nossas forças, atacando as vilas desprotegidas mais ao sul. Eles queimaram nossas casas, mataram nosso povo e levaram o que sobrou para o norte.

Diante daquele horrendo cenário, muitos choraram. Mas eu não. De todas as lições que recebi como lanceiro, a mais importante é que às vezes vencer significa festejar com hidromel e mulheres, mas que quase sempre a vitória tem um leve gosto de sangue.


Mais enxuto esse né? Escrevi a bastante tempo naquele veeelho caderno.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Look at the mirror...

Quando enferrujar, não poderá cortar novamente
Quando perder o controle, rasgará meu corpo em pedaços.
Sim, o orgulho
se parece com uma lâmina.



A cada dia vou vivendo, devagar, sem muita pressa, esperando algo novo acontecer. Aprendendo sem parar, até que uma hora eu olho pra mim mesmo e percebo minha própria pequenez.
Se olhassemos mais para as estrelas, seriamos menos prepotentes. Olha, singularidade da criação, e vê como é grande esse céu que você não pode alcançar.

Sim, é verdade. Julgar os outros é tão mais fácil! Agora, perceber os erros que cometemos, um atrás do outro, é tão complicado! Aquela velha história de que você é seu maior inimigo é extremamente certa. São o orgulho exagerado, a arrogância e a intolerância que causam a pior decadência. Pior que o cego ignorante é o cego pelo próprio brilho.


Essa lição eu trago comigo desde muito tempo, mas às vezes é bom rever. Pra não acabar seguindo vacas sagradas.

Vou mais devagar agora, tomando mais cuidado pra não tropeçar.


**"Não importa o quanto uive, um lobo nunca vai alcançar a lua." - By myself

Oh, brave new world!


Durante uma divertida festa eu me sento e penso: "Que é que eu to fazendo aqui??"

Mais uma vez, diga-se de passagem. Ainda não consegui entender porque ainda vou nessas festas, mesmo sabendo que eu sempre acabo ficando entediado. Beber? não, obrigado. Dançar? Até que eu gostaria, mas me faltam parceiro e talento. Enfim, esse não é meu lugar.
Pessoas supeficiais, música superficial, ambiente superficial. Céus, estou me afogando num pires!!
Uma ou outra pessoa acabam valendo a ida, porém o resultado inexoravelmente é uma profunda decepção com a humanidade.

Como sabiamente lembra uma música muito boa: "Será que existe alguém no mundo que faz valer a vida, ou pelo menos esse instante?". Bom diria que pra mim existe, e que mesmo distante é na lembrança dela que eu me apoio. Ok, o sono nubla minha mente, então boa noite.

Ah vida cruel. Um velho lobo realmente não aprende truques novos.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Odi et amo

E isso dói.



Bem, devido a umas boas dificuldades técnicas não pude comparecer aqui durante o fim de semana.
Muitos de meus grandes amigos foram fazer prova do vestibular e sinceramente desejo que tenham ido bem.

Enfim. Sentir dói, pensar dói. Entendo que quase ninguém queira fazer nenhum dos dois. Mas talvez infelizmente eu faça. E mais do que deveria.
Ou quem sabe eu seja tão frio que só perceba emoções extremas. Whatever.
Calma, não sou tão simples como deveria, mas também não tão complexo quanto pareço. Apenas não me apetece essa superficialidade do mundo.

Nessas manhãs frias de verão (ah, brasília!) é que eu mais lembro daquele tempo simples, em que o amor me cegava pra tudo. Época boa.
Parece que o tempo passou e os relacionamentos ficaram mais infantis, sei lá. Pensando melhor, acho que tudo melhorou. Das derrotas, delas eu aprendi como crescer. Obrigado.
Nós construimos muralhas e fortalezas e na torre mais alta, ou na masmorra mais profunda, escondemos nossas corações e vocês conseguem nos atingir justamente nesse ponto, nossa única fraqueza. Mas um dia ele vai estar em segurança com alguém.

Viu, um monte de frases aleatórias, costuradas sem coesão podem fazer um bom post. Confuso, confuso, assim como eu.

*Cinemão sábado, mucho gusto! Ah pessoas estranhas, mas tão cativantes! hahahaha

Frase do dia: Where there is darkness, may I sow the Light - São Francisco de Assis

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

As Sem-razões do Amor




Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Sábio Drummond... Hoje eu não tinha o que postar, daí vim com essa. Gosto dessa poesia e daí?

Quem sabe amanhã eu trago algo de útil.
Até lá o/

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Esboço de inverno - Parte III

Esboço de inverno - Parte III


No outro dia a história se repetiu, e no outro, e no outro. Durante vários dias, Júlio ia até a velha pracinha bem mais tarde que o normal. Aos poucos ele foi percebendo que a todo momento a imagem daquela garota tomava conta de seus pensamentos, e a cada minuto a vontade de vê-la, e enfim tocá-la, crescia mais e mais.

Em uma certa tarde, quando Júlio chegou à praça, ela estava vazia, como não via há muito tempo. Um aperto lhe subiu ao coração, melancolicamente sentou-se no banco e começou a traçar novamente aquele rosto já tão conhecido. Sentia, sem entender, um vazio dentro de si. Até que um pequeno e alvo floco de neve caiu sobre seu caderno. Ele levantou a cabeça e viu que pequenos pontos brancos começavam a marcar o cenário da praça e que do outro lado, pela rua oposta à que ele usara, vinha caminhando a garota que invadia a todo instante sua mente.

Sentiu então uma alegria subir novamente pelo seu peito e corar-lhe as faces, sempre tão brancas e frias quanto a neve que se espalhava. A menina sentou novamente no banco oposto ao dele e ficou a mirar o chão. Ela parecia muito triste, mas um lindo sorriso veio quebrar aquela melancólica imagem, e novamente a garota pôs-se em estado de vigília, como que a esperar alguém. Exatamente como fazia todos os dias.

Júlio rasgou o desenho anterior, que fizera de memória, e passou a traçar o rosto que, vívido, posava à sua frente. A lapiseira escura parecia dançar sobre o papel e o desenho surgia como a estatua que, liberta pelas mãos do escultor, surge do bruto mármore. Com uma fluidez inédita o desenho apareceu em pouquíssimo tempo. Por último restavam os olhos, nunca antes retratados. O garoto observou atentamente os olhos que passeavam furtivos pela praça e num frêmito de inspiração lançou o grafite sobre o papel. Aquele brilho, aquele verde... cada detalhe era percebido e copiado, toda a paixão de seu coração parecia verter sobre a folha branca. Pronto! Pela primeira vez, um desenho completo de sua musa! O orgulho invadia sua alma e deleitando-se com a própria obra, ou melhor, com o retrato fiel da bela obra divina, Júlio, extasiado, ficou a admirar a beleza que lhe servira de inspiração. A noite caiu serena e quando a lua cheia mostrou sua face branca por entre as árvores, a menina levantou-se e caminhou lentamente pelo caminho por que viera. Júlio viu, ou achou ter visto, uma pequena lágrima rolar cristalina por sua face. “Quem quer que ela esteja esperando é um idiota por fazer isso!!” e, talvez encorajado pela súbita raiva que lhe veio misturada com uma forte impressão de que não veria mais a garota, levantou-se e correu até ela.

_Olá..._disse em tom vacilante_ É tarde da noite, e está nevando, por favor, deixe eu te acompanhar até sua casa, pode ser perigoso você andar sozinha._ Ao contrário das expectativas de Júlio a menina respondeu com um radiante “Sim!”. Calado, Júlio seguiu ao lado dela, que ia calada também, apenas cantarolando alguma coisa enquanto dava largas passadas. “Ela é alta. Quase da minha altura” pensou. _Err, você sempre vem nessa praça? Eu achava esse lugar tão vazio..._ perguntou _Não, vim a primeira vez há alguns dias, depois tenho voltado diariamente. _ Depois disso Júlio não conseguiu articular nada para falar.

Após uma breve caminhada, A menina parou em frente a uma casa muito grande e bonita, e disse _ Eu moro aqui. Obrigado pela companhia._ Hm... ok..._ disse o tímido garoto. Os dois se olharam nos olhos uns poucos e desconcertantes segundos e então a garota quebrou o silêncio dizendo: _ Bom, vou entrando, tchau_ em seu rosto, um sorriso que Júlio, se fosse um pouco mais ousado, diria que apenas escondia uma certa frustração. Em um segundo passaram mil coisas pela cabeça de Júlio mas por fim uma única palavra ressoou em sua mente como o badalo de um sino: “AGORA!”. Quando a menina se virou e agilmente fez menção de se dirigir à porta, o garoto tomou sua mão. _ Qual o seu nome?_ disse com o rosto em chamas _ Flávia _ respondeu a menina. _Flávia...de algum modo, eu... eu... acho que te amo. Todos esses dias eu te vi, e cada vez mais eu lembrava de você, até que um dia percebi que já não conseguia mais parar de pensar em você... desculpe.

A menina parou. Ambos olhavam rigidamente o chão. _ Acho que foi uma coincidência muito feliz eu ter ido naquela praça, justo naquele dia tão frio..._ O menino loiro e magrelo, de óculos pretos de armação grossa, levantou surpreso o olhar, incapaz de dizer algo. _Bom, preciso mesmo entrar._ disse Flávia dando um passo para trás _Es-espere... todos os dias... você parecia esperar alguém, quem era?_ replicou o menino. _ Ora _ respondeu a garota, com um pequeno sorriso e um leve rubor marcando a face _ tava esperando você falar comigo..._ e correndo entrou em casa.

A neve continuava a cair suave nos ombros do garoto. Parado, como que em choque. Um sorriso se desenhou em seus lábios, e correndo voltou para a praça. Quanta alegria sentia aquele frágil coração jovem! Parou em frente à estátua de um velho herói que vigiava, sempre alerta, a praça que o acolhia. Ofegante o garoto encarou a pedra fria e imaginou ter percebido um certo olhar de cumplicidade, então virou-se e caminhou, ainda sorridente, para casa. “Até amanhã à noite, meu camarada”, pensou.

Fim

E esse é o fim amigos. Decepcionados? Eu prometi que escreveria, não que seria bem... Anyway, espero que tenham pelo menos tomado como um passatempo. Teve muita coisa óbvia no texto né, nem precisava ter escrito. Whatever, aos pouquinho fico aqui, no meu canto, escrevendo e escrevendo, quem sabe um dia saia alguma coisa digna de nota.


Bom, obrigado pelo apoio, meus 3 queridos leitores.

Até a vista, meus caros.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Esboço de Inverno - Parte II

Esboço de Inverno - Parte II


Júlio os desenhou a primeira vez, mas não gostou. Faltava alguma coisa. Apagou e recomeçou. Novamente lhes faltava algo. Apagou. Por mais duas vezes tentou esboçar aqueles olhos brilhantes e não conseguiu. Havia uma luz neles que parecia estar acima da habilidade de Júlio retratar. Decidiu que no desenho ela ficaria de olhos fechados. Estava pronto. Um belo desenho, “melhor que desenhar estátuas” pensou o garoto.

Sem que percebesse duas horas haviam se passado e a noite já ia escura. A luz do poste permitia a Júlio continuar acrescentando, orgulhoso de sua obra, pequenos floreios ao retrato da menina. Muito tempo se passou assim, e já bem tarde Júlio viu, por cima de seu caderno, em uma das espiadas que discretamente dava, a menina se levantando pra sair. “Coitada deve ter cansado de esperar alguém. Um namorado, por certo.”. Melancolicamente a menina saiu caminhando em direção a uma das avenidas que levavam a praça. “Será que eu não devia me oferecer pra acompanhá-la? Pode ser perigoso ficar por ai sozinha à noite”. Mas ponderando que ela poderia se assustar mais ainda com um estranho oferecendo companhia, desistiu da idéia. Realmente era uma bela garota, mas Júlio não deu muita importância ao caso. Fechou seu caderno e rumou para casa.

No outro dia, ia saindo direto da escola para a praça, como de hábito. Porém alguma coisa o fez mudar de idéia. Não sentiu muita vontade de ficar sozinho na praça como todos os dias. Então resolveu ficar na escola, lendo alguma coisa na biblioteca, já que não tinha muita coisa melhor pra fazer.

À tardinha, saindo da escola, resolveu caminhar até a praça. E novamente lá estava a garota ruiva, com seu casaco pesado e gorro colorido. Como da última vez, Júlio sentou-se em um banco do lado contrário e começou a desenhar. No seu caderno foi tomando forma uma figura feminina, alta e graciosa. Desenhou primeiro o corpo, da maneira como a garota estava, sentada, com os braços cruzados junto ao corpo, protegendo-se do frio. Mas hoje Júlio reparou melhor em seu rosto, nas pequenas imperfeições. A menina não parecia mais tão distante e perfeita. Enquanto desenhava, Júlio pensou em como aquela menina que encantara tanto ontem, podia parecer tão comum hoje. Em sua mente passavam a todo instante os pequenos defeitos que ele transferia agora para o papel. Apenas os olhos, tão brilhantes que pareciam ter luz própria, continuavam misteriosamente imaculados. Além de impossíveis de desenhar. Mais uma vez, o retrato teria os olhos fechados, “quem sabe um dia eu consiga mostrar toda beleza desses olhos” pensou.

Pronto, terminara o desenho. Com certeza superava o anterior. Esse desenho tinha vida, parecia mais real. Mas mesmo com o desenho pronto, Júlio não queria ir embora. Queria ficar ali e observar a garota mais um pouco. E o tempo foi passando. A menina dava a forte impressão de estar esperando alguém, quem seria afinal? “Deve ser um cara bem bobo, pra deixar uma garota assim esperando!” pensava Júlio. Já estava tarde e precisava ir embora, mas Júlio não queria deixar a menina sozinha na praça. No fundo, no fundo, sabia mesmo é que queria passar mais um tempinho mirando aqueles olhos.

Tarde da noite, a menina levantou-se com um ar abatido e se foi, logo após o rapaz abandonou a praça ao seu silêncio habitual.


Continua... última parte amanhã.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Esboço de inverno - Parte I

Um pequeno conto que estou escrevendo, vou postá-lo em duas ou talvez três partes, mas calma, não é longo ^^


Esboço de inverno - Parte I


“Que frio fazia naquele dia!”, pensaria Júlio alguns anos depois...


Júlio tinha o costume de ir a uma praça, meio esquecida pelo resto da cidade, para desenhar. Mas justo naquele dia haviam pedido pra que ele ficasse na escola até mais tarde para ajudar na decoração para a feira medieval, que seria em uma semana. Essa “ajudinha”, que ia demorar só uma ou duas horas, acabou se estendendo pela tarde toda. Mas o passeio diário à velha pracinha era sagrado! Mesmo naquele entardecer invernal ele decidiu se sentar, nem que fosse apenas por uns instantes, no banco da praça e rabiscar alguma coisa.

A vantagem, pelo menos para Júlio, que aquela praça tinha sobre as outras é que quase ninguém ia lá. Lá, ele podia se sentar e desenhar sem ser incomodado, poderia observar atentamente o cenário imutável das estátuas na fonte ou simplesmente aproveitar o silêncio e descansar a cabeça. Mas nesse dia, tinha alguém sentado na praça. Não que ela fosse assim tão abandonada, mas poucos ficavam ali naquela praça distante e sem atrativos óbvios. Além disso, a pessoa que agora ocupava um dos bancos era bastante notável; uma linda garota, ruiva e de olhos claros, com um gorro colorido na cabeça e esfregando as mãos enluvadas. Júlio sentou no banco do outro lado da praça e pegou seu caderno de desenhos. Mas, por trás do papel, aquele tímido garoto de óculos observava sua peculiar companhia.

A garota de cabelo rubro, curto, pouco abaixo das orelhas, parecia estar esperando alguém. De quando em quando olhava para os lados e esfregava as mãos. Júlio não deixou de notar como a pele branca combinava com os lábios rosados.... pôs-se então a desenhá-la!

Rápido com o lápis, em minutos Júlio passou do esboço aos traços mais gerais. Desenhou o formato do rosto, do queixo nem tão fino e do nariz nem tanto afilado. Eram traços de uma estonteante harmonia, pensou. Tanto o rosto quanto o corpo da garota eram esguios e bem formados, não havia sinal algum de imperfeição, ela era simplesmente mágica!

Júlio desenhara o cabelo que despontava vermelho sob gorro e seu traço fluido acabava de dar os últimos detalhes daquela boca tão pura, tão virginal que parecia incapaz de despertar qualquer lascívia. Por fim, faltavam os olhos...


Amanhã eu continuo a postagem, espero que gostem.
Até lá, amigos.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Felicidade por inércia.

Uma questão que sempre me fez pensar é o verdadeiro significado da felicidade. Hoje li "Admirável mundo novo", de Aldous Huxley, o que me fez refletir mais uma vez sobre o assunto. Este livro traz uma sociedade próxima da perfeição: As pessoas não sofrem, não envelhecem, não há guerras, fomes ou crimes... em suma, tudo perfeito. Mas há algumas manchas nessa civilização. O soma, por exemplo. Soma é uma droga alucinógena, que pode causar letargia e inconsciência. As pessoas no livro usam o soma para esquecer suas dores, sufocar sentimentos mais exarcebados (proibidos pelos tabus sociais), ou simplesmente para descansar depois de um dia de trabalho. Com o tempo, a vida passa a ser inconcebível sem o soma, os usuários tornam-se incapazes de suportar um enfrentamento com a vida real.

Outro ponto de interesse na sociedade descrita é o método de procriação da espécie. Nesse mundo utópico (ou seria distópico?) as pessoas não nascem, são decantadas. Produzidas em fábricas, sob um modelo típicamente Fordista (inclusive seguindo o modo de produção em série de larga escala), lá elas são educadas, ou melhor dizendo condicionadas com métodos pavlovianos a nunca questionar o Estado, a nunca confrotar os modelos sociais e a principalmente nunca desejar o que não podem ter.

Para o Estado nesse livro, a estabilidade social se confundia com o fim da emoção. Os cidadãos eram condicionados a viver de modo infantil, repugnando qualquer forma de interação social que contenha cargas sentimentais. Além disso, a ilusão de felicidade era resultado de seu condicionamento a nunca desejar o que não podem ter. Eles viam todos os seus desejos supridos, mas únicamente porque seus desejos eram balizados pela vontade estatal, que inclusive usava esse poder para criar uma massa de consumidores fiéis.

Enfim, a felicidade deles era na verdade ilusória. Esperem, será mesmo? O que é a felicidade? Hoje não estamos próximos disso? Vejo o tempo todo pessoas fugindo de suas dores, fugindo da realidade, pessoas consumindo inconscientemente, pensando aquilo que as dizem para pensar... e mesmo assim, aparentemente felizes. Será que a tomada de conhecimento da própria individualidade é algo tão importante que valha a pena perder essa felicidade, mesmo sendo ela supostamente falsa?

Bem, dizem que a felicidade é própria dos homens simples. É mais fácil ser feliz se você não tem planos, se você não tem grandes desejos, e principalmente se você não questiona. Mas é uma felicidade inócua. Não há um verdadeiro sentido por trás disso. A vida só se reveste de uma finalidade, ou de uma efetividade legítima, quando é dura, quando é pensada. Pode parecer ruim complicar tanto as coisas. Por que não agir como os outros e apenas aproveitar as sensações enquanto a vida te leva? Porém no fim isso de nada vale! Os beijos conquistados mostram-se insípidos e as paixões rapidamente se apagam. Viver assim é como estar sempre dopado, você uma hora começa a acordar e então precisa de uma dose maior pra voltar ao estupor.

Então, já me alongando mais do que devia, chego a conclusão que embora seja difícil e cansativo viver preocupando-se com sentimentos, ética ou verdades, é a única forma nobre de se viver. Rejeito tais facilidades. Mais vale um amor conquistado estoicamente que mil prazeres gratuitos. Não pensem que sou algum maluco, masoquista ou exagerado. Apenas não consigo conceber a idéia de uma vida que não proponha desafios, que só exista através relacionamentos artificiais e paixões efêmeras.

Até breve, caros amigos.

** "O antro mais escuro, o lugar mais propício, a mais forte sugestão do nosso pior demônio, nada poderá jamais transformar minha honra em desejos impuros." - William Shakespeare ( A Tempestade, IV, 1)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Werther, um sofredor


Minha querida amiga Ilana, em um de seus comentários neste humilde blog, apresentou sua posição sobre a triste saga do jovem Werther. Apresento agora que acabei de ler, a minha.

Discordo, minha cara, quando você diz que ele não sofreu tanto. Acredito que o sofrimento dele tenha sido enorme! Por que?

Bem começa pelo fato de que a amada dele já tinha outro. Não havia apenas a rejeição, mas também a comparação que ele naturalmente fazia entre sua pessoa e a de Alberto, noivo de Carlota. Alberto era o oposto de Werther. Era racional, equilibrado, um homem de negócios, apegado ao seu trabalho e sua terra. Era o modelo de homem para a sociedade. Werther admirava Alberto por suas qualidades. Era doloroso para ele ver que o outro era uma pessoa boa e fazia Carlota feliz. Claro sempre dizemos que queremos o melhor a quem amamos, mas é inegável que é difícil aceitar a superioridade de um rival.


Temos também a própria natureza de Werther, que o impelia a "sentir o mundo" com mais intensidade, com mais paixão. Os sentimentos dele eram sempre extremados, então ele provavelmente sofreu muito além do que mostra o livro. Aliás Goethe diz isso claramente em algumas passagens quando diz que palavras não são suficientes para exprimir tudo o que Werther sentia.

Depois, temos a questão da proximidade aliada à distância de Carlota. Werther a via todos os dias, e ela fazia questão que o jovem a visitasse diariamente. Em contrapartida, Werther não podia tocá-la, não podia beijá-la. Ele apenas podia admirar de longe. Carlota estava perto, porém longe demais. É difícil explicar, mas um amor assim, muito intenso, pode gerar dores incríveis.

Porém, devo dizer que pra mim Werther foi fraco e egoísta. Talvez não fraco, pois é difícil dizer a intensidade que as dores de amor podem atingir. Mas egoísta ele foi. O suicídio pareceu para Werther uma libertação de sua dor, porém ele não levou em consideração a dor que sua morte causaria em Carlota e nas crianças. Será que existe um sofrimento tão forte que leve um homem a escolher acabar com a dor passando o fardo para aqueles que ama? Se há, felizmente nunca provei.


Por fim, o motivo final que fez o jovem enfim se decidir pela morte foi a disposição de Carlota a não vê-lo nunca mais. Werther pode finalmente sentir os lábios de sua amada, tocar-lhe as faces e deitar a seus pés. Porém o preço a pagar seria perdê-la definitivamente. Foi nesse vazio anômico que brotou no coração de Werther a resolução de acabar com a própria vida. Afinal já vislumbrara o paraíso, e entre viver sua perda e morrer com essa lembrança, preferiu a segunda opção.
Infelizmente, uma morte ignóbil, pra alguém que viveu tão intensamente.
Werther, um jovem egoísta, que viveu e morreu por amor.


**Pensamento do dia: "É certo, afinal de contas, que neste mundo nada nos torna necessário a não ser o amor." - Johann Wolfgang Goethe

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Homem e o Lobo

O homem, sentado à sombra de uma árvore, olhava o céu.
_ Viu, eu te avisei. _ Disse displicente, enquanto enrolava nos dedos uma pequena mecha de cabelo. À esquerda, sobre um um raíz que se projetava pra fora da terra, um velho lobo deitado ergue preguiçosamente a cabeça e responde rouco: _ Cale-se, pelo menos eu tentei fazer algo._ e abaixa novamente a cabeça.
_ Calma, não quis ser chato. Desculpe, acho que sei o que você sente. Sabe, estive pensando...
_ Grrr, pensando... Você faz isso o tempo todo. Enche o saco.
_ Rá, rá. Deixe-me terminar. Nós sempre discordamos nesse assunto. Mas acho que dessa vez você fez bem.
_ Hunf. Obrigado...
O lobo levantou-se e aproximando-se do homem continuou: _ Prometa-me meu amigo, se novamente eu perder o controle, você vai me segurar, com essas correntes que nos unem. Não deixe novamente que eu corra tanto risco. _ Ao que o homem respondeu: _ Meu irmão... não posso prometer isso. Não podemos deixar que o frio volte. Não se esqueça de que eu não tenho a capacidade de lidar com o mundo lá de fora como você. Minhas decisões são acertadas, calculadas de modo a minimizar as dores. Mas também minimizam os prazeres.

Um uivo longo. Então o lobo responde: _ A selvageria é minha natureza. Não posso fazer nada senão agir.Você é meu freio, se não fosse por você não haveria remédio pra tantos erros que eu cometi. Mas creio que este não foi um deles. Não vejo como uma derrota. Foi bela a batalha e estou orgulhoso de tudo.
_ Certamente não foi. Veja, se você peca por cometer muitos erros, mais peco eu por temê-los demasiadamente. O medo de errar me impede de agir. Assim, se te sobram derrotas, me faltam vitórias. Mas fique firme, esta curta batalha foi intensa e atordoante, porém dela não saístes de outra forma senão mais forte. E mais decidido. Acredite, em breve você fará bom uso do que passou.
_ Estou bem, meu irmão. Jogar com as palavras é trabalho seu, só posso te inspirá-las. Meu jeito é dizer claramente o que sinto, e não me arrependo nunca de ser como sou. Agora, toque mais uma vez aquela música, amigo.

O homem pegou então um violão que estava caído no chão ao seu lado. Dedilhou uma música tão bela que até as estrelas se aproximaram para ouvir. O lobo, emocionado com a melodia, uivou alto e seu pêlo prateado brilhou sob a luz do luar. Com os olhos úmidos disse: _Em breve meu amigo, eu volto. E partiu, desaparecendo na bruma.

Uma lágrima caiu sobre o violão. _ Ah, a quanto tempo eu não vejo uma dessas!_ Disse enxugando os olhos. Parou de tocar. Respondendo ao seu amigo que acabara de partir, pensou: "Até logo, sei que nos veremos novamente mais rápido que imaginamos. Deixe que por enquanto eu tomo conta daqui."
Então levantou-se, bateu a poeira e saiu.

**Quem será que entenderá?**

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Quarto 101

Todo homem tem seus limites. No fim, lembrando Smith, do livro 1984, vira uma luta entre o corpo e a mente. Queremos resistir às tentações, mas o corpo desiste fácil.
Quebrar as barreiras que cercam o corpo sempre foi uma preocupação humana; os taoístas por exemplo acreditam que a imortalidade é conseguida pela transcendência do corpo e da alma, gregos e romanos viam no equilíbrio entre o físico e o espiritual a essência divina. E o mesmo o cristianismo acredita na mortificação da carne como meio de purificação. "Não há redenção sem martírio".

Em algum momento encotramos nosso maior medo, como no quarto 101, em 1984, onde os adversários do Estado eram submetidos a mais terrível das torturas. No meu caso, o medo vem seguido do peso da escolha. Tenho medo de fracassar com quem espera algo de mim. Tenho medo de não ser suficiente, e principalmente de desistir quando contam comigo. Medo de ser covarde...
O problema é que entre a covardia e a prudência, existe uma linha tênue, assim como entre a ousadia e a temeridade. Seja no amor, seja na guerra, ganha quem conseguir se manter no ponto certo. Esse é o grande desafio. Desistir? Será o melhor a fazer ou estaria eu sendo covarde? Insitir? É o certo ou já passei dos limites?
Não quero desistir do que eu amo, mas o cansaço e a repetição me levam em sentido contrário. A razão me diz pare, o instinto me diz ouse.
Sigo o instinto então!

Complicado , não?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

A natureza animada


Um post um pouquinho mais pessoal hoje...
No livro "Os sofrimentos do Jovem Werther", a natureza é retratada quase como mais um personagem. Quando o protagonista está feliz o céu é azul, quando o sofrimento do amor recai sobre sua alma o céu escuresse e a natureza parece mais fria e soturna. Andei pensando sobre isso, e fico surpreso como é comum que pelo menos eu faça ligações parecidas, entre meu estado de espírito e o mundo exterior. Depois de uma série de dias quentes e ensolarados, em que me senti mais leve, quase transcedental, hoje sobrevêm nuvens escuras no céu, enquanto meu coração se enche de dúvidas. hahaha, forçando um pouco mais o simbolismo, posso dizer que esse começo de ano com lua nova não me deixou muito confortável. Velhas superstições de um velho lobo. Achei que seria lua cheia.

Mas isso é bobagem, um enorme erro de causa de efeito, já que é natural que sintamos tristeza mais intensamente quando menos expostos a luz do sol. Mas pra que estragar com biologia um momento tão poético não é mesmo =)

*O senhor me diz não crer na existência da alma por nunca, em suas cirurgias, haver encontrado uma? E quantas memórias o senhor já encontrou? Quantos sentimentos? - Grigori Rasputin*

domingo, 6 de janeiro de 2008

Mais romantismo


A mola propulsora do romantismo parece, para mim, ter sido as grandes contradições existentes na Europa dos séculos XVIII e XIX. Se por um lado a ciência se desenvolvia com a velocidade das máquinas à vapor, por outro esse avanço não era experimentado por todos. Enquanto a Inglaterra estava na vanguarda da modernidade, a um passo do século XX, a Alemanha por exemplo ainda era um conjunto disperso de estados feudais, que, a exceção da Prússia, permaneciam totalmente fora da conjuntura global de comércio, colonização, etc...

Os ânimos europeus, principalmente dos jovens, se arrefeciam pelo desapontamento com os rumos da revolução francesa, os ideários burgueses se mostravam tão torpes e predatórios quanto os do Antigo Regime, até mais. O resultado foi uma onda de escapismo, de negação da realidade desencantada por parte primeiramente dos românticos na França, Inglaterra e notavelmente na alemanha.


O movimento de codificação do Direito alemão e seus opositores mostram bem essa dicotomia que existia na europa. Sem entrar nesse mérito, podemos também lembrar que para a parte oriental da Europa, a Idade Média tinha deixado rastros bem próximos, como povos considerados bárbaros sendo uma ameaça palpável a coisa de um século ou menos. E isso serviu para alimentar o já rico imaginário popular. Portanto, a modernidade ocidental entrava em choque com a cultura popular, fortemente retrógrada. O movimento romântico surgiu então exaltando a cultura popular, como se vê nas músicas de Wagner ou na literatura de Goethe.

Esse é um assunto bem longo e um mero blog seria pouco digno pra tentar divagar mais sobre isso. Então fiquem aí com esse parcos dados reunidos por uma mente imatura.


Até a vista, camaradas de revolução!


**Só é digno da vida aquele que vai, todos os dias, à luta por ela -
Johann Wolfgang von Goethe**

sábado, 5 de janeiro de 2008

Sturm und drang!


Hoje comecei a ler "Os sofrimentos do jovem werther". Já tinha lidouma parte antes, mas comecei novamente decidido a terminar.
Bom, é bem provável que em breve eu vos escreva falando sobre o livro e seu autor, então achei que seria interessante pesquisar e trazer pra cá um pouco de informações (bem pouco) sobre o momento em que a obra está inserida.

Goethe foi um dos maiores nomes do movimento Sturm und Drang ("tempestade e paixão" ou "tempestade e ímpeto", em alemão), que questionava o desencantamento típico do século XVIII e XIX trazido pelo iluminismo e bem mais tarde pelo positivismo. O pensamento que nascia na época buscava na ciência e na razão humanas as respostas para os questionamentos da vida, abandonando a religião e as crenças ancestrais, rotuladas como superstições.
O movimento surgido então na Alemanha se propôs a resgatar um ideal de arte e mesmo de vida que vinha sendo abandonado. E foi na época medieval e na antiguidade da europa setentrional que ele buscou suas fontes.
Os seguidores do estilo desprezavam a poesia francesa, tão rebuscada e racional, em contrapartida valorizavam a lírica popular, os versos das sagas nórdicas e germânicas, a poesia bíblica. Para os românticos alemães a poesia devia ser vivaz, pulsante, violenta! Deveria ser a expressão dos instintos humanos, com toda a sua impetuosidade e fúria! Esse ideário influenciou grande parte da cultura alemã de seu tempo, não só a literatura, e tempos posteriores.

Particularmente gosto dessa visão emotiva, embora não aceite tanto negação ao racionalismo... Aurea mediocritas... a razão tem seu espaço mas a poesia é como o amor, deve ser vibrante e intensa. Quando tentamos ser comedidos demais acabamos perdendo o verdadeiro foco das paixões, é mais proveitoso sentir intensamente o momento (lembrando que o equilíbrio é importante!). Pense com a cabeça, sinta com o coração. Não tente inverter.
Mas afinal, são apenas as impressões de um garoto.

Até breve, senhores!
Pensamento do dia: "Séria é a vida. Jovial é a arte." - Friedrich von Schiller

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Olavo bilac mais audaz

Delírio

Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.

E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci....



***Pra quem chamou ele de poeta metrossexual!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Versos esquecidos

Em certa época havia um guerreiro
Forte e nobre, de sentimentos puros.
Um donzela do Belo Povo ele amava.
Desta, seu nome ninguém lembra

Mas bela assim nenhuma havia.


Sem resposta o guerreiro esperava

Sua amada que nunca vinha.
Se por medo de amar,
ou pura indiferença,

Ninguém sabe.


Perdido em sua dor o bravo esperava

E em solidão se consumia.
A espera foi dura e seu corpo sucumbiu.

Sua corneta se calou, e seu rosto não mais se viu.


Mas de compaixão os céus tremeram

Em nome do amor que jamais morreu.


Hoje ainda se vê, nas noites de lua alva

Como um guardião noturno,
A sombra escura e fria de um lobo.

Que sob a luz prateada

Uiva pelo nome de sua doce amada.



**Escrito na capa de um velho caderno
Ah, a infância...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Eu, caçador de mim.



Só no aperfeiçoamento diário subsiste a razão humana de viver! A disposição de progredir, de melhorar, deve ser o alvo de toda a humanidade, não só coletivamente quanto individualmente.............. Mens sana in corpore sano.... o brilho de uma mente é ofuscado pela decadência do corpo. A beleza física é deturpada por uma mente fraca. A perfeição, objetivo final e inalcançável, está na harmonia completa entre corpo e mente.
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Novo ano, nova chance, comecemos agora, que o ímpeto transformador seja nosso navio! Naveguemos em direção ao futuro............... Os homens são diferentes, uns fortes outros fracos, mas todos têm o mesmo potencial, o que diferencia um homem de outro é a busca constante por aperfeiçoamento.
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Aurea mediocritas.... a arte do equilíbrio. Mas não o equilíbrio doente dos que se embriagam com a moderação. É, sim, o equilíbrio harmônico, o prazer da pluralidade de conhecimento. Essa é minha busca, essa é minha paixão.
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Coragem de vencer a indolência, a arrogância, o medo e a ignorância. O ímpeto de derrubar todos os obstáculos. Vergar com sua própria força as colunas do destino. Eis o valor do homem.

spiro......

*A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.
Albert Einstein


terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Promessinhas de ano novo.

Feliz ano novo, meus colegas!!

E na onda dessas promessinhas de ano novo que as pessoas fazem, resolvi fazer uma lista de livros pra ler nas férias. Será que ele consegue? tchananan... veremos.


A Utopia - thomas Morus
A arte de amar - Ovídio
Ecce homo - Nietzsche
Musashi V.2 - Japinha que eu esqueci o nome
Teoria geral do Direito e do Estado - Hans Kelsen
O positivismo jurídico - Norberto Bobbio
HP 7 - Jk
Os sofrimentos do jovem Wether - Goethe

Se eu conseguir esses já tá ótimo! Afinal quando acaba as férias, tenho sorte se conseguir ler os textos obrigatórios da faculdade.

Ai, ai, depois do dia mais preguiçoso dos ultimos tempos, amanhã começa de novo a ralação. De volta à monitoria no cursinho. Se bem que lá eu me divirto bastante.
Enfim, feliz 2008 e tenham juízo.

Até breve, mina-san.

*frase do dia: Olá taverneira, não vês que as garrafas estão esgotadas? Não sabes, desgraçada, que os lábios da garrfa são como os da mulher: só valem beijos quando o fogo do vinho ou o fogo do amor os borrifa de lava? - Alvares de Azevedo, Noite na taverna