terça-feira, 30 de dezembro de 2008

31622400

Há um ano eu criei esse blog. 366 dias atrás.

Tanta coisa mudou, o mundo parece diametralmente diferente do que era. Mas tanta coisa ainda precisa mudar!
Esses últimos sete posts foram uma retrospectiva íntima desse ano, são quebra-cabeças que só eu tenho todas as peças, então não se preocupem se não fez sentido ou se pareceu faltar alguma coisa. Foi só uma olhada pro passado. Agora voltamos à nossa programação normal.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Dies septimus



No alvorecer de um dia marcado pela escuridão, enfim descansei.

As incertezas se multiplicavam. Mas elas vinham agora de um enorme vazio, que embora fosse um tanto doloroso, se abria em infinitas possibilidades. O problema é que essas possibilidades me deixavam completamente perdido.

Nesse dia eu pensei novamente sobre qual era a natureza correta a se seguir, quis saber se era certo transformar a vida em um jogo, até imaginei como seria o futuro. Esse tempo de questionamento me fez desenvolver um interesse forte em epistemologia e uma descrença notável nos dogmas.

Dirigia à noite ouvindo coldplay, enquanto eu sonhava com uma felicidade que parecia estar a um braço de distância. Eu queria correr o perigo de viver! Como um exercício de frieza e objetividade, dissequei o amor e criei a minha teoria científica desse sentimento meloso. Foi uma brincadeira divertida! A idéia era reencenar as briguinhas entre Einstein e Bohr. Eu era Bohr, porque einstein era pop.

Contudo, eu ainda sentia, lá no fundo, que por incontáveis horas eu apenas desviava minha atenção do que realmente sentia. Me perdia em pensamentos pra não lembrar que tinha abandonado muito do que eu acreditava. Não consegui olhar pra quem me procurava, e tive medo de olhar pra quem eu queria. Quando será que eu iria enfim gostar de alguém só pelo que ela é? Pensar nisso me fazia imaginar se agente gosta mesmo de alguém por seu ser, ou se procuramos aquilo que ela representa. Sentimentos são confusos. Afeto e raiva parecem se confundir, ou eu os faço similares. Não sei bem, porque não sou familiarizado com a raiva.

O sétimo dia foi um dia de abrir a janela da carro e sentir o vento forte. Assim, descansar a mente, esperar um pouco pra mais tarde abrir os olhos e descobrir um mundo admirávelmente novo!

E ainda descanso.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Dies sextus


E do pó se foi criando um homem. O retrato imperfeito de uma forma universal, o primeiro passo na busca de uma potencialidade.

O sexto dia marcou o fim de um sonho, mas foi o início de uma jornada. Para me afastar do passado eu procurei refugio no conhecimento. Os posts, em um primeiro momento, evitavam trazer de volta sensações dormentes. Escrevi sobre um dos anos mais simbólicos do século XX, sobre uma música que eu gosto e uma tirinha que eu sou fã, e até um que era só um link pra um blog que eu lia.

Com o tempo, eu comecei a usar a filosofia pra não pensar. Irônico, no mínimo. Me concentrei em estudar alguns pensadores e debrucei-me sobre meus próprios pensamentos, onde encontrei nada mais que incertezas. Consciente disso, decidi parar de procurar um sistema que fosse universal. A única coisa que parecia capaz de abarcar toda a complexidade do universo é o subjetivo e duvidoso bom-senso. E assim passei a tentar seguir de acordo com a medida das coisas. Além de ser um dos melhores posts daqui, pra mim. Eu queria assim ser mais complacente, com meninos e meninas. E comigo mesmo. Quando escrevi sobre garotos, falava comigo mesmo.

Eu não sabia bem que papel deveria assumir, e estava atônito com a nova percepção que eu tinha do mundo.As pessoas me pareciam assustadoramente próximas. Ao mesmo tempo uma dorzinha ainda batia lá no fundo; E se tudo fosse diferente? Eu poderia viver encontros bem inesperados. Poderia ter feito nossas horas durarem pra sempre.

Foi um tempo em que tive minha maiores inspirações. Mas acabei me acostumando com a solidão. Percebi que desde o começo, escrevia pra que ela lesse, e quando olhei pra trás vi que quando ela lia todo dia, eu escrevia todo dia, quando ela não lia, eu passava dias sem postar nada. Então parei e decidi que eu não poderia manter as coisas como estavam. Chega de ilusão, chega de esperança, chega de heroísmo. Eu sabia o que tinha que fazer, sabia qual era o meu dever, e finalmente resolvi seguí-lo. Não vou mais mexer nas feridas, melhor deixar sarar.

Como eu havia prometido, parei de falar de dor, de coração, de ilusão. E os posts foram ficando cada vez mais raros. Só apareciam quando eu lia um gibi, ou discutia com alguém. E sempre meio ranzinza. Eu tinha muita coisa pra falar, mas não devia. certas coisas não devem ser ditas. O meu jeito foi escrever um quebra-cabeças em que faltavam pedaços. Onde cada leitor só podia montar a sua parte na figura, e só eu via a imagem toda.

Ah, coração humano que me traía! Vi que era muito difícil, fazer o que eu já havia pedido que fivzessem: tirar da cabeça quem não sai do coração. Qualquer minuto de desatenção e num instante uma música te faz lembrar dela! Lampejos de esperança iam e vinham.

Contudo o dever era inescapável. Eu tinha que agir segundo o dever. Mas era tão difícil!
O imperativo categórico realmente cheira à crueldade.

E a escuridão do terceiro dia se confundiu com a escuridão do próximo e eu esperava a alvorada no sétimo dia.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Dies Quintus


E aqui nascem os peixes e répteis, mas não tenho analogia pra isso.

É engraçado o modo como meus sentimentos eram contraditórios nesse dia. Eu dirigia ao pôr do sol ouvindo The Kooks e me sentia feliz, mais leve, como se houvesse tirado um peso do meu peito. Acho que eu me sentia mais humano. Mas isso me assustava e me assustava o modo como issa havia alterado meu plano inicial pra esse blog. Eu queria ser tão frio quanto no passado. Era até bom, mas no fundo eu sabia que uma hora essa frágil alegria ia cair aos pedaços.

Foi também nesse dia que eu abandonei meu medo de uma vida medíocre e comum, meu desejo de poder, e vi que a felicidade é o que dá sentido a existência humana. Nossas vidas não têm sentido fora de si mesmas, o importante é estar bem. esse mesmo dia também foi um pouco doloroso, porque enquanto as estrelas do lobo brilhavam sobre mim, eu vi toda a tristeza e beleza de um mundo que nunca seria meu. Lupus e virgo dividiam o mesmo céu, mas nunca estariam realmente juntos. E foram essas estrelas que me inspiraram a escrever aqui, durante esse tempo.

Eu era um mártir bobo, me machucando sem motivo. Que respostas dolorosas eu recebi sobre o que eu dizia! Não imerecidas, é claro. Eu forjei uma alegoria boba pra isso, pra quando eu perdesse o meu coração no inverno, e desesperado pedi ajuda ao céu. A confusão só crescia e no ápice de minha fraqueza, eu me traí. Quebrei minha palavra. Dei o último golpe em uma amizade sacrificada no altar de deuses tão volúveis.

E veio a noite do quinto dia, uma noite sem brilho, quando mais uma vez, ouvi The Kooks.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Dies Quartus


Na madrugada do dia quarto um lobo amargurado uivou para a lua nascente. Eu passei a achar que a leveza que eu sentia era muito mais torpor que felicidade. Estava tão perdido com o rumo que as coisas tomavam que mal percebia o céu estrelado que se abria à minha frente.

Drummond, Quintana, Bandeira, esses caras foram os companheiros desse dia, em que eu
sonhava em esquecer as pequenas tragédias do momento. A alvorada teimava em não chegar e eu só queria que aquele dia terminasse de uma vez. Mas eu fui pensando, e pensando, e pensando, tanto que acredito ter chegado a muitas conclusões importantes. Esse dia de dolorosa sonolência tambem foi um dia de importantes lições. Contudo, havia uma lição que eu não havia aprendido, e que embora já conheça, ainda não consigo seguir fielmente. Eu me enganava. Eu escrevia pensando em alguém, mesmo jurando que apenas reproduzia o que aprendi. Bobagem. Quando eu desprezei passado e futuro, não havia entendido completamente a ilusão do tempo, nem entendi. Vejo claramente que eu só estava justificando o que eu havia dito a alguém. O que era pra ser uma lição de desprendimento acabou sendo mais um argumento fútil de um debate que estava perdido desde o começo.

Ah, como eu sentia saudades dos
velhos tempos. A vida era mais fácil, sem preocupações. Mas não dá mais pra voltar, tive que seguir em frente. Desse dia em diante eu escolhi a impassividade, não queria mais lutar, pra não machucar mais ninguém. E assim eu fiz durante um tempo. Eu acredito em uma ordem extremamente precisa do universo e ser o mais racional possível parecia a coisa certa na época.

Quando eu revia todo o
caminho que havia feito, sentia uma vontade enorme de terminar de uma vez essa jornada maluca. Porque eu não chego logo ao último ato dessa caça-ao-tesouro? Falta tão pouco pra ser feliz! Mas ainda é cedo, seria insensato se o "viveram felizes para sempre" aparecesse agora. Sabia que era egoísmo se eu pedisse um final feliz só pra mim, se eu fizesse alguém chorar pra que minha vontade fosse feita, e principalmente se eu abandonasse sobre alguém um peso que era meu. Eu ainda provei muito de esperança e ousadia.

Tudo que me acontecia parecia um roteiro de filme bobo escrito pelo destino, uma sina inescapável que me perseguia. Porém, eu não aceitaria um destino já decidido. Naquele dia eu vi que deveria abandonar minha vontade, só não sabia o significado disso. Tudo o que esse coração antiquado queria era ser estupidamente feliz.

Et factum est vespere et mane, dies quartus.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Dies Tertius


E na aridez do ser cresceu uma planta jovem, e ela se espalhou por toda a extensão. Apesar das minhas decisões, suas raízes ficavam mais e mais fundas.

Entendia um pouco melhor agora quem sou eu. Minhas fraquezas e limitações. Nesse dia eu tentei aceitar as coisas que eu não poderia mudar. Queria fazer o tempo voltar, mas no fundo desejava que ele seguisse o rumo que eu determinasse. Nesse dia eu era preso por uma promessa (que eu deveria ter mantido a todo custo), e vivia tentando achar um jeito de fazer minha vontade sem quebrar minha palavra. Acabou que eu quebrei a promessa do mesmo jeito, mas não hoje.

Olhando o passado, vejo que já disse "eu te amo" mais vezes do que eu imaginava. Infelizmente, nem sempre com sinceridade. Eu acho. De qualquer forma isso já passou, não serei mais tão insensato. As dificuldades daqueles dias nem se comparam com o que veio depois, mas eu fiquei muito feliz com tudo que aprendi. Estava feliz principalmente comigo mesmo, porque eram momentos em que sentia ter transcendido muitas dificuldades, e superado muitos deslizes.

Mas eu não podia me livrar das coisas que eu já tinha feito. No anoitecer desse dia eu vi em seus olhos marejados a dor que eu podia causar. E vi horrorizado que eu destrui o sorriso que queria cuidar.

E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Dies Secundus


Por entre águas e céus eu parti. Talvez se houvesse separação entre nós, eu veria que isso era bom.

Os dias passados no frio do norte não puderam esfriar meus sentimentos. Uma pena. Poderia ter evitado que eu cometesse os mesmos erros novamente. Ao menos foram dias de diversão, dias tão amenos que sequer escrevi algo de importante aqui. Não há muito de relevante pra se falar dos tempos de paz. Eu fui para longe querendo pensar, tentando decidir que caminho deveria seguir. Porém minhas escolhas ainda eram limitadas por uma fraqueza melancólica de não conseguir enxergar a realidade.
Que posso dizer? Lá e de volta outra vez, mas não mudou muita coisa.

Ou melhor acho que mudou. Não meus sentimentos, mas meus pensamentos. Comecei a entender o que eu devia fazer, embora não gostasse disso. Achei que estava pondo um fim às ilusões e pude então me forçar, aos poucos a agir pelo dever.

Mal sabia eu que ainda cometeria as mesmas faltas.

Queria pensar, entender melhor a mim mesmo, e voltei decidido a dar um tempo, deixar o futuro resolver as coisas. Mas o futuro nós construímos hoje e em breve eu saberia que os acontecimentos da época não projetavam um futuro muito feliz. Ao menos me dei conta de algumas ilusões e por fim entendi que ainda havia muita coisa pra entender antes de ser alguém bom.

E longe daqui se passaram a manhã e a tarde do dia segundo.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Dies Unus


No começo haviam as palavras, mas faltavam a coragem. E como bastião da covardia, nasceu este blog.

Talvez eu esteja sendo um pouco duro comigo mesmo. Também havia um forte desejo de aprender, de ler mais, de estudar e ser melhor. Tanto que eu comecei com a filosofia do martelo desejando destruir um passado indolente e me tornar alguém digno do que eu desejava. Devo assumir que ainda me era visível uma certa ingenuidade, o saber nos torna cínicos e frios, cada vez mais me convenço disso. Ou talvez esse seja só mais um passo no longo caminho de aprender.

Foi com essa ignorante pureza que eu escrevi o melhor post desse blog e que, como nenhum outro, mostra de fato as tarefas que eu me imponho. Relembro agora as dúvidas e medos que sentia e vejo que continuam praticamente os mesmos. A diferença é que na época eu sentia ter um objetivo, um alvo para olhar quando precisava de força. Estava tão iludido com a certeza de amar... ah se eu pudesse prever a dor que as certezas trazem nesse mundo de devaneios.

Nesse momento as duas partes da minha alma tomaram forma e digladiaram, embora não pela primeira vez. No fundo, eu sabia que não havia chance de sucesso, mas me agarrava a fiapos de esperança. Cada palavra que me vinha a mente tinha um significado diferente, mesmo histórias tão bobas eram uma alegoria sobre o que acontecia. Talvez se eu fosse um pouco mais sábio, não teria lançado certas palavras ao vento.

Diz um ditado que o sábio aprende com os erros dos outros, o ordinário aprende com seus próprios erros e o idiota não aprende nunca. Até hoje não sei se sou um dos comuns ou um idiota. Tanto é que desafiei a sorte e cometi o mesmo erro novamente. Porém não vejo modo de ter resolvido as situações da época de maneira diferente. Ao menos sendo honesto.

E assim foram a manhã e a tarde do primeiro dia. Quando a noite veio cuidar de corações machucados eu disse adeus, e dormi, até o segundo dia.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Abiogênese do carinho

Primeiro, recados da paróquia:

Hoje é solstício de verão, então peguem suas capas coloridas e dancem em volta de fogueiras matando virgens SEUS PORCOS PAGÃOS! ............ Brinks

Esse foi portanto o dia mais longo do ano e no qual o sol esteve no seu ápice.
Tinha outros recados mas eu já esqueci. Enfim, vamos oa post em si.

Começo explicando aos jovens que não prestaram atenção nas aulas de biologia, e que provavelmente não conhecem o experimento de Pasteur (*incentivando pesquisas no google*), o que é abiogênese. Esse termo significa algo como "origem não biológica". É o nome que se dá à antiga teoria de que a vida poderia surgir de em ambientes sem matéria orgânica. Do nada, sem meias palavras.

E de que, afinal falará esse post? Ora, de algo que garotos nerds frustrados entendem melhor que qualquer um: O valor da espontaneidade. E aqui eu falo de o quanto é importante quando alguém faz algo por você... um carinho não requisitado, digamos assim.

Deve ser lugar-comum que não é legal ter que pedir o tempo todo por atenção (e nem me parece saudável), mas eu fico com a forte impressão de que as ações espontâneas de outras pessoas acabam adquirindo um valor simbólico muito maior do que aquilo eu peço ou faço. Sei que é contraditório vindo de mim. Pode ser muito importante receber um beijo no rosto, ou um abraço se aviso. É um sinal de apreço enorme e que aparece em atos simples, que a maioria das pessoas nem percebe.

Uma necessidade infantil de se ver amado, uma certa fraqueza que nos impele a buscar aprovação do próximo, mas é uma falha boa e normal. Falta de abraços deixa as pessoas ranzinzas. Também as deixa peludas e verdes. Foi isso que aconteceu com o Grinch.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Mania de guardar velharia

Tenho um sério problema: não consigo jogar nada fora.
Guardo qualquer tranqueira velha que tenha o mínimo valor emocional, como provas do jardim de infância, ingressos antigos de cinema e pequenos bilhetes. E não consigo me livrar deles depois! Não sei, simplesmente sinto como se estivesse jogando fora um pedaço de história.

O resultado é que tenho pilhas e pilhas de papéis velhos, e que aumenta a cada dia. É tanta coisa inútil que de vez em quando eu encho uma caixa de papelão e jogo na lixeira. Só pra depois sentir aquelas pontadinhas de remorso. Mas já tem tempo eu resolvi isso. Ou melhor, arrumei um jeito de diminuir o ritmo com que esse lixo sentimental se acumula. Me desfaço das coisas antes que elas adquiram valor. E evito aquelas que tem valor intrínseco, como lembraças específicas.

Por isso, sigo algumas regras; não guardo em hipótese alguma conversas de Msn, pois algumas certamente se tornariam muito importantes pra mim, deixo, ao contrário do que fazia antes, que as mensagens novas no celular apaguem as antigas. Apago os e-mails pouco depois de os receber... enfim evito guardar as palavras das outras pessoas. Não que eu não goste de recebê-las, muito pelo contrário. Apenas tenho medo de dar valor demais à meras palavras.

Fora isso, há certas pessoas das quais eu evito a qualquer custo manter lembranças, fotos, por exemplo. E faço isso porque gosto demais dessas pessoas. E disse bem Shakespeare em uma de suas peças, que agora não lembro qual foi: "Guardar um objeto como lembrança tua seria aceitar a hipótese de que eu posso esquecê-la".

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Numb

"Comfortably Numb", Matt hansel: 2005, oil on canvas, 28 x 48 in

"Eu já quis chorar e não consegui.
Me perguntaram como é possível
Deixar de lado os sentimentos.
É fácil. O problema é você
Se acostuma a não sentir.
E um dia vai querer gritar,
Mas não vai conseguir."

domingo, 7 de dezembro de 2008

De Spike a Jasão.

Aaaah Férias! Finalmente! Tempo para ler Kant direito e ver as dúzias de animes que eu deixei pra depois. Falando nisso, ao assistir um episódio de Cowboy bebop ontem, acabei lembrando de uma aula de introdução à filosofia, vinda direto do passado.

No tal episódio, um grande cientista arma um esquema para destruir a empresa onde ele trabalhava. A grande sacada é que o plano é programado para se iniciar sozinho em 50 anos. Meia década depois, a empresa pede ajuda dos cowboys do espaço para prender o tal cientista. Conversa vai, conversa vem, os caras da Bebop conseguem encontrar o cientista. Só que ele agora é um velhinho senil e não lembra de mais nada. Tudo termina com os caçadores de recompensa deixando o velho livre, já que não parecia certo responsabilizá-lo pelos feitos do passado.

O que esse episódio me fez pensar foi na discussão sobre a identidade. O que define a constância do ser? Quero dizer, como é possível garantir que ontem, hoje e amanhã eu serei a mesma pessoa?
Isso é particularmente importante para o Direito, pois é necessário criar um parâmetro para definir até que ponto alguém pode ser condenado por ações do passado e, lembrado de minority report, do futuro.

A memória poderia ser um desses critérios. Se tenho a memória dos acontecimentos passados, isso revela a continuidade da minha existência. Porém há falhas aí. A memória em si não é confiável, ela é cheia de buracos e erros. Além disso, se você for paranóico o suficiente, sempre existe a possibilidade de suas memórias serem implantadas.

Outra possibilidade seria indentificar a continuidade do ser com a própria continuidade física. Mas nosso corpo também muda, células nascem e morrem, trocamos nossos átomos. Depois de um tempo, se toda matéria que nos forma houver sido substituída, seremos alguém diferente? É o clássico paradoxo de Argos; se a nau argos tiver todas as suas tábuas substituídas ao longo do tempo, continuará sendo a nau argos?

Não sei ainda como o Direito resolve essa questão, mas particularmente sou seguidor de Heráclito. Essa discussão toda não faz muito sentido porque a permanência é ilusória, tudo muda e a cada instante eu sou uma pessoa nova. Não acredito em uma essencia que vai ficar comigo até a morte, antes prefiro pensar que dizer o que sou só pode pretender uma resoposta exata no presente. E isso ainda é algo bem complica.
Isso aí, sou mesmo fã do Grinch da grécia antiga: tudo flui.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Curva de Phillips

A curva de Phillips foi criada pelos economistas americanos Paul Samuelson e Robert Solow, ao analisarem dados da economia dos EUA e confirmarem as previsões do neozelandês A.W. Phillips, que em 1958 verificou pela primeira vez a relação inversa existente entre a inflação e o desemprego a curto prazo.

Sob sua interpretação clássica, a Curva de Phillips mostra que reduções no nível de desemprego acarretam aumentos inflacionários e vice-versa. A explicação breve para isto é que um contingente maior de trabalhadores assalariados implicará em um aumento na demanda por produtos, o que pela lei do equilíbrio de mercados resultará em um aumento de preços, ou seja, inflação. Pelo contrário, a redução do nível de emprego reduzirá a demanda e os preços cairão. A relação entre inflação e desemprego apresenta-se portanto como uma típica relação de trade-off, em que a sociedade e o Estado deverão decidir qual ponto na curva é o mais desejável.

Porém, a partir da década de 70, o modelo de Phillips deixou de ser observado empiricamente. Até aquele momento as taxas de aumento da inflação tendiam a zero e o único fator relevante para o estabelecimento dos aumentos de preços parecia ser a demanda. As crises internacionais dos anos 70, por outro lado, levaram a situações de altos níveis de desemprego concomitantes com elevadas taxas de inflação. Verificou-se então que a expectativa de inflação era fator de grande influência na macroeconomia. Taxas altas de inflação em um ano faziam aumentar a expectativa de inflação para o ano seguinte e isso deslocava a Curva de Phillips para cima, resultando em taxas altas tanto de desemprego quanto de inflação.

A curva de Phillips, revista pelo monetarista Milton Friedman