sábado, 24 de outubro de 2009

Vencer!


Olhar o tempo passando é um luxo. Sim, o tempo, esse que me assombra. Essa que é minha obsessão. Eu até mato o tempo, mas é o tempo que me enterra. E o meu tempo passa no ritmo preguiçoso de um carro de boi, que irrita todo mundo que corre. Eu ando no compasso da mais intencional displicência, pra poder aproveitar bem esse tanto que dá pra olhar do mundo. Mesmo caminhando às vezes de mãos pensas, lembrando do que eu perdi, esse sorriso bobo não me larga o rosto. E vez ou outra ele se abre mais por causa da lembranças de coisas simples e raras pra mim.

Só que mesmo essa alegria desmedida não significa que eu acho que tenho tudo. Nem que espero um mundo mais fácil pra amanhã. Nunca fui de alimentar muita esperança. Esperança é veneno. Te faz se acostumar com o que você tem e faz esquecer de se esforçar. Pior, faz acreditar no que era imaginação. E sabendo disso, nem esquento com as coisas daqui pro futuro. Se vou ganhar ou perder, essas coisas bobas. Deixo de lado a ideia de vencer num final feliz, pra ganhar um pouco a cada manhã. E o tempo continua lá, me azucrinando e lembrando de quão pouco tempo eu tenho. "Corre, vai, não enrola", ele me diz. Mas eu não ligo. Já aprendi a não esquentar com o tempo que já foi e com o que ainda não chegou. Já não fico mais louco pra ser um vencedor. Prefiro levar a vida assim, devagar. Só pra não faltar amor.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Nota #20 - ou só mais uma nota inútil

Blog são coisas perigosas, justamente porque um mínimo de pessoalidade já o torna parte de você. Quando se escreve uma só frase em primeira pessoa, é u pedaço da própria alma que se coloca ali à disposição de todo mundo, pra ser dissecado, analisado e julgado. Sério, é preciso ter coragem, quem tem blogs pessoais é bem corajoso. Uma coragem que eu de certa maneira invejo.
Invejo porque este blog que vocês estão lendo encontra-se obviamente em crise. Não exatamente uma crise de criatividade, ideias pra escrever eu até tenho. A pertinência delas é que é questionável. Só pra constar, tenho tentado pensar em que formato quero que este blog tenha. Portanto, peço paciência e que vocês não me abandonem. Ah, olha só, nem sou blogueiro profisional e já estou de mimimi como eles quando não têm o que postar.
Mas não é bem esse o caso. Eu só estava pensando, aqui ouvindo "O velho e o moço", sobre as coisas que eu poderia dizer aqui mas não devo. Não por vergonha, ou mesmo pra evitar elocubrações desnecessárias. Apenas porque são coisas pra serem ditas e não escritas. Talvez uma medida imprescindível pra se escrever é saber o que não se escreve. Aliás, cada mensagem tem seu canal certo.
Isso é interessante, porque tem coisa pra se escrever pra internet inteira ler, outras que se sussura com cuidado.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Nota #19

É muito fácil ser duro. Não precisa muito esforço pra parecer uma pessoa gelada, sem sentimento, dessas com quem não se puxa papo na fila do banco. Talvez ser assim distante seja da natureza de algumas pessoas. Por outro lado, como me disseram, toda essa frieza e suposta firmeza podem ser apenas um jeito de esconder carência e fragilidade. Pode ser, até que faz sentido.

Sempre pensei na metáfora de as pessoas construírem muralhas, fortalezas e um milhão de defesas pra não se machucarem. Só que a parte mais frágil não dá pra proteger. Mesmo com todo o cuidado, um beijo ou um sorriso despretensioso derrubam toda a aparência de força. Ou não, ainda acredito naquelas pessoas que não tem coração, simplesmente. Devem existir.

Mas assim, pra maioria de nós tem alguma coisa que te pega de surpresa e te põe a gaguejar ou te deixa sem reação, meio que perdido. Pode ser uma ligação sem motivo, um carinho pra quem não tá acostumado ou um desenho que alguém te faz. Sabe, essas coisas pequenas, que te fazem sorrir tão forte por dentro que você nem lembra o que dizer.