domingo, 30 de agosto de 2009

Amok time

Um vulcano é um ser lógico, frio, calculista. Sua filosofia é a do mais estrito utilitarismo, eles deguem o rígido imperativo categórico com toda a crueldade kantiana. Mas engana-se quem acha que essa raça, que se tornou símbolo do universo Star Trek é incapaz de qualquer sentimento.

O conceito por trás da conduta maquinal dos vulcanos é que sua espécie fez uma escolha pelo auto-controle, como é dito no primeiro filme da série eles "enterraram nas areias seus instintos". O que não é tão verdadeiro, pra quem lembra do "pon-farr". Sua decisão foi por uma racionalidade que sobrepõe as emoções e põe em dúvida sua utilidade. Basta lembrar do 4º filme, em que, ao ser questionado como se sentia, Spock exitou, não quanto ao conteúdo da pergutna, mas quanto à sua pertinência. O certo é que ele não era vazio de emoções, apenas não via razão para considerar sobre elas.



Superar as paixões desse modo já foi o anseio de diversos pensadores. É bem comum acreditarem que a pureza do pensamento racional é mais eficiente que o turbilhão de emoções que costuma varrer a cabeça de uma pessoa normal. Também já pensei assim. Mas agora, acho que concordo com uma premissa bem recorrente na série clássica do jornada nas estrelas*: as paixões definem o homem.

Minha meta agora não é tanto a frieza matemática dos vulcanos, mas sim uma certa placidez, um desapego que permita não conter o fluxo de sentimentos, pelo contrário, conduzí-lo. Canalizá-lo eu diria, se não fosse essa carga de misticismo que a palavra vem carregando. Enfim, seria bom ter um coração disciplinado e calmo como o silêncio eterno dos espaços vazios, mas o caminho pra humanidade é sentir, com intensidade e fúria. Pois pra ser humano, é preciso ser uma tempestade.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Do you need anybody?

Sorria! você tem tudo o que precisa!
Pena que a gente quer muito mais, né? Queremos ser muito mais do que ter. Sim, pode dizer que esse é um discurso bonitinho mas vazio. Mas não custa nada tentar convencer.

O que todo mundo quer, no final é quietude de coração. Um sentimento de completude, talvez uma forma crônica daquela euforia do dever cumprido. Todos querem saber responder algo além do próprio nome quando lhe perguntam "Quem é você?". Até o mais pragmático tenta se definir, mesmo que seja através do que possui. Aliás é bem comum falar que se quer ter uma namorada, quando o desejo verdadeiro e o de ser amado, ou coisas do tipo. Sempre confundimos ter e ser.

Realmente, ninguém quer passar a vida toda agradecendo por não ser tão ferrado quanto poderia ser, todo mundo quer algo mais. Todo mundo quer ser astronauta, bombeiro ou agente secreto. Ter um carrão ou ser famoso. Não tem problema, a insatisfação é que traz progresso mesmo. Então eu até penso "tenho tudo que um monte de gente quer, eu deveria estar satisfeito. Desse jeito quando eu ganhar o que quero agora eu vou ficar triste de novo e querer ainda mais.. blá blá blá", mas não há nada de errado em ambicionar sempre mais. Eu queria conseguir chegar até aqui, agora quero mais e depois vou querer mais ainda. O que importa é direcionar a vontade pra um lado e fazer o melhor que puder. Mesmo sabendo que depois vai querer ir mais longe ainda.

Então, afinal, o que você quer, o que você precisa?

I need somebody to love.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Vou dominar o mundo.



Acordei ontem e percebi que era um estudante de Exatas frustrado. Me peguei admirando a elegância das poucas e toscas partes da física que eu ainda consigo entender, senti a cabeça refrescada depois de ler um pouco do meu livro de cálculo de mais de 40 anos. Simplesmente não dá pra entender como as pessoas detestam tanto as ciências naturais. Uma equação ou uma questão difícil bem resolvida podem ser tão catárticas quanto a arte e causar tanta euforia quanto decepar a cabeça de um orc com sua espada vorpal.

No dia anterior eu me dei conta de que havia nascido pra desenhar. Me deu aquela vontade louca de largar tudo e arriscar a vida de desenhista. O espírito prático falou mais alto. Nem de longe me acho tão talentoso.

Hoje eu mergulho nos clássicos, fico extasiado com o edifício teórico construido por gerações de sábios em dois mil anos de história do pensamento. Tanto quanto a elegância precisa do universo, me encanta o caos equilibrado da sociedade, regida por leis tão obscuras quanto as que regem as galáxias.

A lição é que jamais serei 100% feliz, qualquer que seja a área que eu estude. Simplesmente porque um só campo do conhecimento é algo muito pequeno pra mim. Nunca vou saber tudo de Direito, Filosofia ou Física, mas eu quero saber. Eu só quero abraçar o mundo. É pedir demais? Meu único problema é que a arte é longa, mas a vida é breve. Sou imperfeição, a criatura mais marcada pela angústia, justamente por querer tudo e não poder nem entender quase nada. Minha vontade é infinita, mas meu poder e entendimento são finitos e essa é a fonte de todo sofrimento.

Porém, mais que levar ao niilismo e inércia, a aceitação de nossa pequenez deve ser combustível pra viver intensamente. Saber que jamais atingirei a completude do ser, independente de quão imensa seja a minha vontade de poder, deve ser um incentivo para sorver da vida o máximo de possibilidades que eu puder. Não poder ser tudo me faz tentar ser o que puder. Assim é a filosofia do martelo.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Estatísticos voam mais tranquilos

Depois de uma queda de avião que repercute muito na mídia, eu sempre ouço pessoas falando sobre como estão assustadas pra viajar, ou sobre como sentiram calafrios só de pensar em voar depois de um acidente tão horrível.
Eu costumo respondê-las dizendo que os dias depois de uma queda são os melhores dias pra se viajar. É simples, qual a chance de dois acidentes acontecerem em tão pouco tempo?

Na verdade, ambas as afirmativas estão certas e erradas. Depende de quão rigoroso você é.

Usando probabilidade simples, nenhuma das opiniões faz sentido por que as quedas de aviões são independentes. É como em um jogo de cara-ou-coroa. Se eu jogar a moeda duas vezes e obtiver CARA duas vezes, qual a chance de tirar CARA pela terceira vez?

CA , CA , CA
1/2 * 1/2 * 1/2 = 1/8

Na verdade não. As duas primeira moedas não influenciam o comportamento da terceira assim, a chance de conseguir CARA uma terceira vez é a mesma de sempre, 1/2.

Por outro lado, as afirmativas do começo pode estar ambas corretas porque acidentes de avião podem sim afetar a ocorrência de novos eventos do mesmo tipo. Depois de uma fatalidade, a segurança na aviação civil tende a ser reforçada, tornando as viagens mais seguras, ao menos por um tempo. Porém se o acidente tiver ocorrido por falhas na estrutura dos aeroportos ou por defeitos que surjam devido a idade das aeronaves, é provável que novos acidentes ocorram em pouco tempo.

Assim, é bom lembrar que às vezes os cálculo puros levam a resultados aparentemente contra-intuitivos. Mas a realidade depende de mais variáveis do que conseguimos colocar num cálculo.