É tudo questão de autoconsciência.
Chega um tempo em que não se questiona mais a lógica na vida. Um tempo em que não se olha mais pra fora buscando uma resposta. As palavras difíceis começam a parecer ridículas e as figuras sérias com seus óculos grossos e vozes empoladas lembram mais os palhaços de uma inocência perdida. A maturidade chega lenta e preguiçosa, e você olha pra si mesmo. É um tempo de ver e viver erros e de se julgar. Sem fantasias, sem adornos. Simplesmente viver.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo que não tem tempo pra começar nem pra acabar. Dia 10 já passou há muito, depois de amanhã é quarta-feira e quinta ninguém sabe o que será. Não faz diferença, duas décadas ou oito, não importa quando é que se aprende uma lição. O importante é que se aprenda.
E o que fica mais claro após esse quinto de século é que não aprendi quase nada. Talvez pudesse me sentir mais sábio, por saber o segredo que ninguém sabe; a simples ideia da ignorância. Porém, isso não é lá coisa de se orgulhar tanto. É quase uma obrigação. Perceber a própria pequenez, olhar os próprios erros e tentar evitá-los ainda me parece algo bem razoável. Apesar de muita gente subestimar os erros, eu continuo errando sempre. Pra errar mais. Acho que não me arrependo dos meus destrambelhos, cada um tem seu valor. A menina que chorou, os 32 "eu te amo" na mesma noite, a que disse adeus sem olhar pra trás. Cada momento e pessoa, mesmo os que te deixam mal, são importantes pra determinar o caminho que se segue pra ser feliz.
Quando se chega à beira da felicidade que sempre se esperou, é que a gente percebe que não é bem o que queria que ia nos deixar feliz. Mais ainda quando tudo o que você queria chega à distância de um beijo e de repente se desfaz no ar. E mesmo assim você continua com uma inquietante alegria. Com o sorriso fácil de uma criança. Pra mim, esse ser criança foi mais que simples sorrir. Foi descobrir um mundo de coisas, foi me sentir um menino bobo e mesmo tempo algo conflitante, bem mais velho e perigoso.
Alguns me conheceram menino, a estes foi decepcionante descobrir a crueldade, a frieza e tudo o mais que espreita num canto escuro de mim, sob a forma de um lobo. Outros me viram como esse lobo. Estes se decepcionaram ainda mais. Pois acabaram por descobrir a irritante fraqueza, a imaturidade e a ingenuidade que me tornam tão pouco.
Talvez seja inevitável um certo desapontamento no fim. Todo mundo espera algo ou alguém, mas eu sou nada e é isso o que me convém.