Olhar o tempo passando é um luxo. Sim, o tempo, esse que me assombra. Essa que é minha obsessão. Eu até mato o tempo, mas é o tempo que me enterra. E o meu tempo passa no ritmo preguiçoso de um carro de boi, que irrita todo mundo que corre. Eu ando no compasso da mais intencional displicência, pra poder aproveitar bem esse tanto que dá pra olhar do mundo. Mesmo caminhando às vezes de mãos pensas, lembrando do que eu perdi, esse sorriso bobo não me larga o rosto. E vez ou outra ele se abre mais por causa da lembranças de coisas simples e raras pra mim.
Só que mesmo essa alegria desmedida não significa que eu acho que tenho tudo. Nem que espero um mundo mais fácil pra amanhã. Nunca fui de alimentar muita esperança. Esperança é veneno. Te faz se acostumar com o que você tem e faz esquecer de se esforçar. Pior, faz acreditar no que era imaginação. E sabendo disso, nem esquento com as coisas daqui pro futuro. Se vou ganhar ou perder, essas coisas bobas. Deixo de lado a ideia de vencer num final feliz, pra ganhar um pouco a cada manhã. E o tempo continua lá, me azucrinando e lembrando de quão pouco tempo eu tenho. "Corre, vai, não enrola", ele me diz. Mas eu não ligo. Já aprendi a não esquentar com o tempo que já foi e com o que ainda não chegou. Já não fico mais louco pra ser um vencedor. Prefiro levar a vida assim, devagar. Só pra não faltar amor.