domingo, 31 de janeiro de 2010

Toda fraqueza será perdoada


Dançando no escuro é um filme que surpreende. Nem tanto por trazer algo novo, mas sim por mostrar uma natureza bem deteriorada do homem.

O filme faz crescer um sentimento de pena e revolta pela pouca sensibilidade que a protagonista recebe do mundo, pelas pancadas que ela recebe da dura realidade que se apaga a cada instante da sua visão. Mas o que eu achei mais marcante foi o final, que, óbvio, eu vou contar. O filme é de 2000, quem não viu até hoje já tá errado.

Enfim, o final me deixou pensativo porque eu esperava heroísmo, mas as pessoas são cruelmente frágeis perto do fim. A personagem da Björk, aceitou ser jogada na prisão e condenada à morte por uma injustiça e preferiu não se defender, abrindo mão da chance de sobreviver em troca da cirurgia que evitaria que seu filho também perdesse a visão. Estoicamente, ela aceitou morrer por algo que ela achava valer a pena. Nada mais clássico. Só que no fim ela chorou, fraquejou, quis desistir. Mesmo a nobreza da sua decisão ficou pequena diante daquele triste espetáculo.

No Direito, diz-se que a norma não exige um comportamento heróico, ninguém é obrigado a manter qualquer dignidade, humanidade ou moral quando enfrenta o fim. Mas é desolador pensar que no último instante podemos perder o restinho de orgulho que temos. Existe algo chamado de pirâmide das necessidades que explica até bem isso. Diante do risco de dano à necessidade mais básica de todas, todo o resto vira futilidade e a honra, um luxo descartável.

E o que consideramos essência moral do ser humano não passa de um verniz fino que se descasca, revelando o mais profundo instinto de sobrevivência.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Somos muitos severinos

Somos iguais em tudo na vida, todos partilhamos a ignorância e a pequenez, somos irmãos na nossa cegueira, morremos de morte igual. Não importa muito o tanto que se sabe, por que até quem sabe usar as palavras mais complicadas se perde nas contas um pouco mais difíceis e o sujeito que é muito bom com os números às vezes não sabe quem foram Machado ou Drummond. Então, que sentido tem o médico que ri de quem não sabe onde fica o nervo ciático? Ou do advogado que despreza quem não sabe dos próprios direitos? Ou o gramático que torce o nariz pra quem fala errado, e por aí vai... De onde vem a prepotência intelectual, se ninguém sabe tudo e, no fim, ninguém sabe é nada?

Severino já foi nome de papa e hoje é nome de retirante, nome de quem não tem rosto. Rosto no meio de uma multidão de Joões, Marias e Severinos, no meio da qual estão nossos próprios rostos. Qualquer um é mais um perdido no mundo sem tamanho, mas as pequenas diferenças, que aos nossos olhos ficam enormes, podem ser suficientes pra alimentar uma soberba descabida. É difícil pro forte não abusar da força, ou pro inteligente não se sentir superior. Essa sim é uma tentação forte, e a única saída é não esquecer nosso tamanho. Olhar bem pro céu e ver nosso tamanho real.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Asceta sem opção

Morrendo de fome só lembro de uma palavra: ascese. É o auto-flagelo de quem busca realidades mais altas. O asceta é aquele que procura fortalecer o espírito torturando o corpo.

Contudo, nem de longe eu estou atrás de uma súbita iluminação. Minha fome tem razões bem mais mundanas. Acabou o macarrão. De qualquer modo, me recordo das crenças que tanto desprezam o corpo. Como é possível? Me parece tão óbvia a interdependência de corpo e mente que aos meus ouvidos não faz sentido tratar como opostos. É uma coisa só.

O que sustenta o ideal ascético é a ideia de que corpo e alma são separados e antagônicos, ou seja, que a força de um se traduz na fraqueza do outro. Mas um ser humano não é feito de pedaços autônomos. Um homem é um todo que depende da harmonia das partes. Matar o corpo é como suprimir a vida, é um crime. A dignidade verdadeira é liberdade de corpo e mente, deve aparecer como força, tanto da vontade quanto das mãos.

Mas continuo com fome =P

sábado, 9 de janeiro de 2010

Desculpinhas de ano-novo

Ok, vou me esforçar!


Meu 2010 começou com algumas resoluções, como o de muita gente. Também começou com alguns desafios e testes pra passar. Veio cheio de promessas de muito trabalho pela frente. E pra atrapalhar, também começou com um bocado de preguiça. Nessa virada de ano não teve nenhum post especial, nenhuma coisinha interessante por aqui, nada. O blog ficou severamente entregue às moscas. E ai eu já quebrei minha primeira promessa de ano-novo, a de cuidar mais do blog. Quem sabe um layout novo, uns posts mais frequentes... vou tentar, pelo menos.