domingo, 17 de janeiro de 2010

Somos muitos severinos

Somos iguais em tudo na vida, todos partilhamos a ignorância e a pequenez, somos irmãos na nossa cegueira, morremos de morte igual. Não importa muito o tanto que se sabe, por que até quem sabe usar as palavras mais complicadas se perde nas contas um pouco mais difíceis e o sujeito que é muito bom com os números às vezes não sabe quem foram Machado ou Drummond. Então, que sentido tem o médico que ri de quem não sabe onde fica o nervo ciático? Ou do advogado que despreza quem não sabe dos próprios direitos? Ou o gramático que torce o nariz pra quem fala errado, e por aí vai... De onde vem a prepotência intelectual, se ninguém sabe tudo e, no fim, ninguém sabe é nada?

Severino já foi nome de papa e hoje é nome de retirante, nome de quem não tem rosto. Rosto no meio de uma multidão de Joões, Marias e Severinos, no meio da qual estão nossos próprios rostos. Qualquer um é mais um perdido no mundo sem tamanho, mas as pequenas diferenças, que aos nossos olhos ficam enormes, podem ser suficientes pra alimentar uma soberba descabida. É difícil pro forte não abusar da força, ou pro inteligente não se sentir superior. Essa sim é uma tentação forte, e a única saída é não esquecer nosso tamanho. Olhar bem pro céu e ver nosso tamanho real.

Um comentário:

Comentador Fiel disse...

Até o nerd que sabe de tudo vai morrer virgem, se alguém tivesse tudo não teria graça ser o outro.