Renè Descartes defendeu em seu "Discurso do método" que o conhecimento seria muito mais refinado, perfeito, sólido, se fosse construído pela mente de um único homem. Isto é, se cada ser humano construísse seu saber, ele seria bem mais puro e avançado,menos sujeito ao erro. Descartes compara à ciência com uma cidade, que é muito melhor construída se houver sido projetada por uma mente solitária do se for resultado da vontade descoordenada de vários homens.
Eu concordo com Descartes. Acredito que o único conhecimento seguro, se é que existe algum, é aquele que você descobre, experimenta e comprova por si mesmo, tomando certos cuidados. Porém vejo um obstáculo ao projeto decartiano. Simplesmente não temos tempo de, sozinhos, descobrir a realidade. A vida humana é tão ínfima, que só podemos descobrir um pedacinho do universo e deixar os dados para os outros e tem sido assim desde a aurora dos homens. Desde o princípios somos anões, nos equilibrando uns sobre os ombros dos outros, tentando enxergar o universo além de nossas capacidades individuais. Sendo tão curta a vida, não somos capazes de apreender muito do que existe.
Esse é talvez o meu maior motivo de angústia. Eu vejo o tempo passando, e tanta coisa para descobrir, para conhecer. E sei que simplesmente nunca vou saber mais que uma pequena parte disso tudo. Vejo essa mesma angústia no Fausto, de Goethe, que negocia com o diabo para conseguir a vida eterna. E assim, ter mais tempo para estudar o mundo. Me sinto tentado a dizer que eu também abandonaria muita coisa para ter a oportunidade de viver eternamente e conhecer tudo. Sempre a achei aquela música, Iris, que diz: "I'd give up forever to touch you", a maior balela. Simplesmente não existe amor que me fizesse abrir mão da eternidade. Afinal, o tempo cura tudo.
Imagine quantos livros são feitos todos os dias, quanta informação é produzida. Mesmo sendo a maior parte formada por lixo, estamos condenados a não absorver isso. Em um mundo perfeito, imagino que teríamos toda a infinitude do tempo para prender mais e mais, e poderíamos nos dedicar a isso, sem nos preocupar com indigno labor.
O tempo é percebido pela mudança, pela transição entre estágios excludentes, e nossa visão dele é deformada pela efemeridade de nossas existências. Acredito que o tempo tem natureza cíclica, girando em um eterno devir onde o ponto de saída e de chegada se confundem. Porém somos como alguém que vê apenas uma pequena parte de um gigantesco círculo. Somos incapazes de perceber sua curvatura e acreditamos estar diante de uma linha reta. O tempo nos parece linear porque somos muito pequenos diante dele.