sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Ligeiras impressões sobre o tempo

Renè Descartes defendeu em seu "Discurso do método" que o conhecimento seria muito mais refinado, perfeito, sólido, se fosse construído pela mente de um único homem. Isto é, se cada ser humano construísse seu saber, ele seria bem mais puro e avançado,menos sujeito ao erro. Descartes compara à ciência com uma cidade, que é muito melhor construída se houver sido projetada por uma mente solitária do se for resultado da vontade descoordenada de vários homens.

Eu concordo com Descartes. Acredito que o único conhecimento seguro, se é que existe algum, é aquele que você descobre, experimenta e comprova por si mesmo, tomando certos cuidados. Porém vejo um obstáculo ao projeto decartiano. Simplesmente não temos tempo de, sozinhos, descobrir a realidade. A vida humana é tão ínfima, que só podemos descobrir um pedacinho do universo e deixar os dados para os outros e tem sido assim desde a aurora dos homens. Desde o princípios somos anões, nos equilibrando uns sobre os ombros dos outros, tentando enxergar o universo além de nossas capacidades individuais. Sendo tão curta a vida, não somos capazes de apreender muito do que existe.

Esse é talvez o meu maior motivo de angústia. Eu vejo o tempo passando, e tanta coisa para descobrir, para conhecer. E sei que simplesmente nunca vou saber mais que uma pequena parte disso tudo. Vejo essa mesma angústia no Fausto, de Goethe, que negocia com o diabo para conseguir a vida eterna. E assim, ter mais tempo para estudar o mundo. Me sinto tentado a dizer que eu também abandonaria muita coisa para ter a oportunidade de viver eternamente e conhecer tudo. Sempre a achei aquela música, Iris, que diz: "I'd give up forever to touch you", a maior balela. Simplesmente não existe amor que me fizesse abrir mão da eternidade. Afinal, o tempo cura tudo.

Imagine quantos livros são feitos todos os dias, quanta informação é produzida. Mesmo sendo a maior parte formada por lixo, estamos condenados a não absorver isso. Em um mundo perfeito, imagino que teríamos toda a infinitude do tempo para prender mais e mais, e poderíamos nos dedicar a isso, sem nos preocupar com indigno labor.

O tempo é percebido pela mudança, pela transição entre estágios excludentes, e nossa visão dele é deformada pela efemeridade de nossas existências. Acredito que o tempo tem natureza cíclica, girando em um eterno devir onde o ponto de saída e de chegada se confundem. Porém somos como alguém que vê apenas uma pequena parte de um gigantesco círculo. Somos incapazes de perceber sua curvatura e acreditamos estar diante de uma linha reta. O tempo nos parece linear porque somos muito pequenos diante dele.

4 comentários:

Rábula disse...

Partilho dessa angústia e dessa vontade de viver para sempre, mas tento evitar esse tipo de questionamento. Pelo menos para mim, a solução desse problema é a própria ausência de solução. Prefiro uma angústia solucionável, terrena. Gosto de me preocupar com algo que sei que posso resolver. Não estou dizendo que estou certo, ok? Prefiro me enganar que sim.

Fabi disse...

Queria ser imortal pra observar a evolução das espécies. Claro que usaria os meus óculos enquanto isso.

Comentador Fiel disse...

sei lá, uma vida que não é feliz não é uma vida que eu quero viver para sempre.

Talvez exista sentido em desistir da eternidade para encontrar sentido no que é passageiro.

Rábula disse...

Hmmm, mandou bem Champz. Seria uma discussão que levaria dias. Mas faz sentido Champz, faz sentido...