sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Na minha cabeça



Don't panic.

O relógio na parede parece estar congelado. Cada segundo dura uma hora. A professora fala, fala, fala... do que ela está falando mesmo? Nem sei. Eu estava sentado, meio deitado na cadeira, tentando manter os olhos abertos enquanto nos meus ouvidos a música tocava. Mas só eu ouvia. Eu queria muito ir embora. Daquela sala, daquela escola, daquela cidade.

Então uma buzina tocou lá fora. Eu nem ouvi, mas sei que tocou porque todos - inclusive a professora, que parou de falar - olharam para a janela.

Ela apareceu montada em uma moto. Estava segurando o capacete nas mãos mas ainda usava aqueles óculos antigos que parecem de natação. Tudo nela era diferente do resto da escola. Ao invés do uniforme recatado das alunas, uma jaqueta de couro grande demais. No lugar do rabo-de-cavalo comprido e bem comportado das outras garotas, um cabelo azul, cheio de pontas confusas. E pela cara que ela fez uma vez quando perguntei, tenho certeza que ela tem uma tatuagem. Só não sei onde.

Quando olhei pela janela ela acenou, encostada como estava na lambreta amarela. Me virei para a professora (que estava mudando em diversos tons de púrpura) e sem pensar de novo, tirei a gravata e pulei a janela. Subi na moto e sem dizer nada ela arrancou. Pra onde vamos? _ perguntei. Ela apenas olhou pra trás e sorriu. Corremos mais rápido que o vento e ela acelerou até que o mundo virasse um borrão e só existíssemos eu e ela.

A lua crescente laranja sorria no céu azul claro, guiando nós dois por uma estrada sem fim. Até que chegamos em um lugar perdido, um jardim de pés-de-tangerina onde ninguém ia nos achar. Lá nós descemos da moto e encontramos um velho monge careca que nos sorriu. Ele se levantou e disse coisas que não entendi. Então ela me estendeu o dedo e eu amarrei uma fita colorida nele. E foi lá que sob as benção de um velhinho de bigodes, nos casamos.

Debaixo de um figueira nos beijamos e, abraçados, vimos mil estrelas cadentes riscarem o céu, mas não fiz nenhum pedido, porque tinha tudo que queria. Só fiquei ali, abraçado com ela. Continuava ouvindo uma múscia mas ela também ouvia agora. O chão sumiu e tudo a nossa volta desapareceu. Estavamos flutuando em um espaço cheio de cores mutantes e um coral de tordos tocava rock'n'roll. Eu olhei no fundo dos seus olhos e vi as estrelas refletidas lá. Mas tudo foi ficando claro e eu acordei.

Continuava na sala. A professora continuava falando. Olhei pra fora, não havia ninguém lá. Mas até que foi divertido. Ela sorriu pra mim e nos casamos em minha cabeça. Foi melhor que escutar a professora falando.

3 comentários:

Comentador Fiel disse...

pois é, os sonhos são sempre melhores que a realidade. Até os pesadelos.

Rábula disse...

Jamais!!! Os exercícios de futurologia são legais. Essas viagens não...

John, O Lobo disse...

Quem descobrir todas as referências aí ganha um quindim.