quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Wu wei, a Não-ação

“O Tao é uma constante não-ação
Que nada deixa por realizar.”
Capítulo 37 – Tao Te Ching


Ação é fazer, não-ação é não ter intenção de fazer.
A vida segue um fluxo contínuo, asim como um rio. Da mesma forma que nos cansamos se nadarmos contra a correnteza de um rio, lutar contra o fluxo da vida apenas nos levará à exaustão. A filosofia chinesa do taoísmo ensina que é preciso deixar que a vida flua por você, caso contrário você estará desperdiçando energia inutilmente.

Na verdade essa idéia é bastante semelhante a tese dos estóicos gregos, que faziam a analogia entre as vidas humanas e cães amarrados a uma carroça que não para: É melhor seguir calmamente o caminho do que lutar, pois você será arrastado de qualquer forma. Alguns séculos mais tarde Santo Agostinho pedia em suas orações "serenidade para aceitar o que não pode ser mudado".
Essas posições aparentemente trazem consigo um quê de conformismo, de aceitação covarde do que é posto. Mas a citação do Tao Te Ching, que está lá em cima, pode mostrar um caminho diferente para entender essa impassividade diante da vida.

A não-ação de que fala o trecho é diferente de não fazer nada. Ação é fazer algo, Não-ação é não ter intenção de fazer. Agir com naturalidade, mantendo o coração vazio de interesses, de engenhos ou especulações. Só quando deixamos de pensar no que deve ser feito, sabemos enfim o que deve ser feito, quando não planejamos agir de maneira determinada estamos livres para agir desta maneira. É fácil ver isso, se alguem te diz que você age de tal forma, será mais difícil continuar agindo assim, pois você passará a medir suas atitudes em busca de um padrão que deveria ser natural. Não-ação é, portanto, ser natural.

Just shake it up, baby

16 comentários:

Lecram disse...

"serenidade para aceitar o que não pode ser mudado".

mas como saber, se realmente não pode ser mudado? é difícil entender essa teoria sem cair no conformismo/comodismo... pra mim.

massa o texto! sempre procuro respostas sobre isso. não conhecia desse jeito, vouu procurar mais sobre (:
.: aah, calvin supimpa! hahueha

Rábula disse...

aí arrancamos nosso cérebro e vivemos como os animaizinhos felizes da floresta.

John, O Lobo disse...

Não, simplesmente somos alguém sem tentarmos ser alguém.

E Mcel, a frase inteira é: "Devemos aceitar com serenidade as coisas que não podemos modificar, ter coragem para modificar as que podemos e sabedoria para perceber a diferença."

Erro meu, não é de Santo Agostinho, mas sim atribuída a São Francisco de Assis, embora eu não tenha encontrado fontes seguras e haja divergência.

Rábula disse...

Isso é quase agir por instinto, é jogar fora todo o desenvolvimento que conseguimos. Só não dá para ser mudado o que achamos que não dá.

Você tá parecendo um católico...

John, O Lobo disse...

Não, meu caro, isso não se relaciona a agir instintivamente, e sim a buscar praticar ações por seus valores intrísecos. Isso é no fim das contas o ideário ético de kant despido do seu rigor formal.

Não faça reduções ao absurdo, o foco do post é a relação individual do homem com seus problemas éticos. E não se devemos ou não montar uma cafeteira elétrica.

"Só não dá para ser mudado o que achamos que não dá."
Então me mande um projeto funcional de moto-perpétuo, por favor.

O universo tem suas leis rapaz, de onde ela vêm não importa.

Comentador Fiel disse...

Bem, concordo com isso, e você vai negar até a morte que concorda...

bom texto.

Pequeno Grande Homem disse...

Não fazer nada não deixa de ser uma ação "Eu passo meu turno hAUIheiuaheiah". Eu ja tinha entendido a oração "serenidade para aceitar o que não pode ser mudado" como algo muito além do conformismo. O Mcel falou certo quando disse "Como saber se realmente não pode ser mudado?" mas provavelmente uma oração dessas saiu de uma tentativa frustrada kkkkkk.

Rábula disse...

"serenidade para aceitar o que não pode ser mudado"

isso parece muito mais uma daquelas frases para as pessoas se conformarem com sua desgraça enquanto poucos enriquecem às suas custas do que qualquer tipo de sabedoria.

"Só quando deixamos de pensar no que deve ser feito, sabemos enfim o que deve ser feito,"

Instinto: impulso natural, independente da reflexão.

Não me propus à fazer um moto-perpétuo.

Devem ter dito há algum tempo atrás "então faça-me falar com quem está do outro lado do mundo", ou "dê-me algo que possa gravar, com imagem e som, algo que já aconteceu", ou ainda "crie algo que se sustente no ar". Sair do planeta então...

Se os caras que inventaram tudo o que usamos hoje e que antes eram inimagináveis e impossíveis concordassem com você jamais tentariam criar, apenas repetiriam o que já existia. Aceitariam que o homem não poderia sair do planeta, que é impossível falar com quem está do outro lado do mundo, enfim, não tentariam mudar o que não pode ser mudado.

É tentando mudar o que supostamente não pode ser mudado que criamos melhores condições para viver. Mesmo que não mudemos exatamente como queríamos, mas a simples tentativa já mostra outro caminho, e talvez outro, por meio de sua tentativa, consiga a mudança que você idealizava.

E é muita arrogância de alguém dizer que tem a sabedoria de distinguir o que pode ser ou não mudado.

Nada pode ser mudado! Até que alguém consiga mudar.

Lecram disse...

Uhm, mais sentido e mais próxima agora ela completa. Acho que já tinha visto antes

Concordo com isso, mas quando entra o lado existencialista - construir uma essência apartir da existência... ir contra o fluxo parece tão natural. Travo.

- Rábula Rábula
"Você tá parecendo um católico..."
quem é mesmo o arrogante aqui?

E não acho que se trata de construir algo, deeesenvolvimento da humanidade, criar qualquer coisa sr. Einstein. Isso só é uma consequência maior:

'Que nada deixa por realizar'
Quando se é natural, tudo acontece mais facilmente. Relacionamentos, objetivos, coisas dentro de um mundo mais individual.

Rams: Passo o meu turno!
hauheaha, boa!

Rábula disse...

Lecram = John?

Sou arrogante e jamais terei a prepotência de dizer que algo não pode ser mudado.

Essa consequência maior é fruto de uma mentalidade que não aceita que algo não pode ser mudado.

"Quando se é natural, tudo acontece mais facilmente. Relacionamentos, objetivos, coisas dentro de um mundo mais individua"

Discordo - como você mesmo gosta de dizer - diametralmente!

John, O Lobo disse...

O post não é sobre os limites da razão e da ciência, embora haja um forte crítica no pensamento contemporâneo a ambas que você iria gostar de conhecer.

Também não é sobre instinto, apesar de hoje se acreditar que o instinto esteja por trás de muito do que acreditamos ser racional.

É sobre um agir descolado do caráter utilitário, sem preocupações desnecessárias ou ansiedades. Desculpem pelo post ruim, clareza é um dever de quem escreve, que aparentemente eu não cumpri.

Rábula disse...

Lecram = John?

Peocupações desnecessárias? impossível um conceito mais pessoal do que esse... ou você consegue listar as preocupações desnecessárias universais?

Pequeno Grande Homem disse...

É, não cumpriu mesmo!

Mas eu achei 'entendível' até certo ponto! É porque a palavra "natural" tem muito mais força do que aparenta!
Eu entendi que o que você falou é algo um pocuo além do instinto. Porque instinto é um padrão de comportamento herdado de uma espécie inteira, e o que você quis dizer é sobre uma percepção individual.

Dava pra citar Freud, ou mesmo Piaget e falar de todo aquele esquema sobre o aprendizado da criança e como ele influencia nas percepções futuras. Mas essa definitivamente não é minha área! kkkk se eu tiver falado baboseira, me corrijam!

Lecram disse...

e... Definitivamente não!
Eu sou Lecram. John é John.

Fim. (;

Rábula disse...

Hmmm... ok. Confundi, achei que era o John - em outro login - respondendo meus comentários.

Realmente, John é John. Você é apenas um imbecil.

Pequeno Grande Homem disse...

Ei! Ninguém chama meu amigo de imbecil! Babaca =D!