sábado, 27 de junho de 2009

A lógica da incerteza


Uma vez li sobre uma versão diferente do já batido amigo oculto no fim do ano. Eu achei mil vezes mais divertida, chama-se "amigo oculto quântico".

Funciona assim:
Digamos que dez amigos vão participar. Você pega dez caixas e dentro de cada uma põe os nomes de todos os dez amigos. Cada um leva um presente aleatório, o sorteio só acontece na hora da entrega dos presentes. Nesse momento, abre-se a primeira caixa e o presente vai pra pessoa sorteada. Essa caixa é descartada e a próxima pessoa a ser presenteada é sorteada tirando-se o nome da segunda caixa. E assim vai até que um nome tenha sido tirado de cada caixa.

Achei essa versão genial porque ela é uma metáfora quase perfeita pra vida. Porque, caso não tenham percebido, nessa versão de amigo oculto você nunca sabe o que vai ganhar e, o mais legal, é possível que uma pessoa só ganhe todos os presentes e o resto do pessoal saia de mãos abanando! Diz ai, se não lembra um pouco a experiência cotidiana...

Não acredito que haja um caminho definido na vida. Um destino programado ou uma consciência externa te sacaneando ou premiando arbitrariamente. A vida, meus caros, é um sistema caótico e complexo, indefinível senão em termos de probabilidades. E esse sistema sofre a influência de um zilhão de variáveis e constantes. E, contrariando alguns ao concordar com Lost, nós somos uma variável nessa equação. O modo como agimos e as escolhas que fazemos altera os resultados. Claro que não é só nosso livre-arbítrio que determina o andar das coisas. As outras incontáveis variáveis estão ai pra garantir as infinitas possibilidades do ser. É bem daí a famigerada sorte.

Mas o que o amigo oculto quântico bem pode ensinar é que às vezes você não ganha nada enquanto outros levam os presentes legais, mas isso não quer dizer que o universo te odeia, é apenas um dentre um número enorme de resultados possíveis. E é justamente a possibilidade de se ferrar que torna vitória tão significativa. Então como ficar com raiva, ou rancoroso quando algo não dá certo? É o risco de errar que faz valer a tentativa de acerto.

Se você não está disposto a perder, nem vale a pena jogar.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

The blues stills blue

Talvez eu seja um sádico, mas os rostos mais lindos que eu já vi carregavam tanta melancolia! Pensei hoje em como isso é curioso. Todo mundo prefere pessoas alegres e sorridentes, eu no entanto não consigo deixar de admirar uma certa nota de tristeza.

Não, minto. Não tenho absolutamente nada de sádico. Detesto a dor em outras pessoas. E esse meu indesejável senso de dever me faz muitas vezes preferir me machucar, aguentar toda a dor, pra não chatear outra pessoa. Bobo que sou. Há algum tempo eu me perguntei porque deveria fazer isso. E a resposta veio de pronto; porque eu aguento. Talvez eu seja forte, ou talvez não dê pra machucar uma pessoa sem coração. Mas eu devo ser mesmo um tremendo idiota nessa área. De um jeito ou de outro, as pessoas acabam tristes.

Tristeza é o que você sente quando acha que perdeu a pessoa certa, tristeza é um negócio que dá quando você não consegue aquilo que faltava pra tudo ficar perfeito. E tristeza também é o que você sente quando percebe que aquela felicidade de comercial de margarina está longe de ser a regra.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Alceu & as comédias românticas

Um de meus grandes amigos, um sujeitinho chamado Alceu, certa vez me disse: "Não assista comédias românticas, elas te fazem acreditar em algo que não existe". Pobre coitado, eu achava que ele falava do amor. Mas a algum tempo eu entendi, o que não existe é mágica!

Quer dizer, não a mágica que esses filmes mostram. A realidade é um pouquinho mais sem graça do que te dizem. Se você quiser que o pôr-do-sol seja um enorme GIF meloso cheio de glitter é melhor começar a se esforçar porque a mágica e a gente quem faz. Sinal disso é que maquiamos a realidade do jeito que achamos melhor e no frigir dos ovos acaba que cada um vive no mundo que escolheu. Isso é hiperrealismo, colorir a vida com todas as tonalidades felizes, de acordo com o próprio daltonismo.

E como toda crítica se volta ao próprio crítico, não deixo de notar que eu acabo lembrando sempre das situações que mais parecem atos de um drama shakespeariano do que simples acontecimentos de minha vidinha pouco movimentada. São os atos falhos de alguém que aprendeu a amar bela e tragicamente, mas nunca entendeu os caminhos dos meros - e felizes - mortais.

Eu não sou tão certinho, nem tão quixotesco, o céu não é tão azul, a poesia tão profunda nem os churros tão bons assim. Mas é assim que eu desenho o meu mundo, o hiperreal que eu construi. E mesmo com todo mundo inventando a vida todo dia, ela não vai ser tão mágica como aqueles filmes mostram. Mas nem é isso a parte chata.

O verdadeiro problema da vida é que ela não tem trilha sonora.

domingo, 14 de junho de 2009

Não sonho com ovelhas elétricas.

Se todos os dias um cara substituísse parte de seu corpo por uma máquina, e continuasse assim até que no final seu cérebro fosse trocado por um processador, mantendo todas as memórias e a consciência. Esse cara ainda seria humano? E se ao invés disso o cara fosse sendo construído do nada, com o mesmo resultado final?

Enfim, o que faz a humanidade de um ser humano? Difícil dizer quando encaramos a possibilidade de criar seres tão capazes de raciocínio e moral quanto nós mesmos, porém totalmente à parte de nossa linhagem. Mais difícil ainda quando lembramos de quão desumanos nós conseguimos ser.

E o engraçado é que justamente quando percebo que sou capaz de me irritar, que estou sujeito a agir irracionalmente ou a machucar alguém, é que lembro que sou um humano, igual a todos os outros, nem melhor nem pior. Só mais um em um oceano de 6 bilhões.

Talvez pra conhecer nossa humanidade, seja preciso olhar para o lobo que se esconde dentro de nós.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Nota #18 ou "Querido diário"

Um homem sem amigos é um homem sem memória.

São as lembranças que você compartilha com eles que servem como uma mínima garantia do passado. Afinal, qual a chance de todo mundo fazer parte de um complô pra te enganar com memórias implantadas?

Quase Habermasiano isso, é a conjunção dessas várias razões (tantas vezes desarrazoadas) que nos permite alguma certeza. E é esse pessoal estranho que me faz acreditar em bodes gigantes, pães voadores, clubes do pastel e todas essas piadas sem graça pro resto do mundo.

Zé povinho

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Não sabe o que é sofrer.

Somos egoístas e presunçosos quanto a nossos sentimentos.

Sempre acreditamos que o nossa dor é maior que o de qualquer criatura do universo, e que qualquer amor diferente do nosso não é amor. Aliás essa é uma das coisas que eu mais ouço por ai: "Você diz isso porque nunca amou na vida".

Contudo, se amor e sofrimento são sentimentos, e como tal subjetivos, como dá pra dizer que os seus são maiores ou melhores do que outra pessoa percebe? Ou que seu conceito sobre eles é mais correto? Minhas ideias me permitem ver esses sentimentos como coisas de importância passageira, que nós mesmos criamos e destruimos, e sou de deixar as feridas cicatrizarem, sem mexer. Mas quem sou eu pra dizer que um Werther também não sentiu de fato?

Então você pode até discordar do que eu digo, mas eu não vou duvidar do que você sente. Mesmo achando que é um jeito estranho de sentir. Talvez, no máximo, dê pra imaginar quem você é pelo jeito como percebe essas coisas bobas do coração.
Em contrapartida, por favor, não duvide dos meus.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Quero ser grande

Meus colegas costumavam dizer que os alunos que entram na faculdade pelo PAS eram mais imaturos que os que passavam pelo vestibular. Segundo eles, os jovens calouros ficavam estudando no ensino médio e, como não aproveitaram a vida espinhenta de adolescente, não eram tão maduros quanto os outros. Como eu sou do contra, sempre discordei. Ao menos do meu ponto de vista, a atitude desses moleques de ter se empenhado em um projeto de longo prazo sacrificando um pouco da vida boa do momento revela um pensamento muito mais adulto que o dos outros.

Mas pensando melhor nisso, vi que essa discussão era meio sem sentido. Afinal, o que é uma pessoa madura? Pra começo de conversa, dizer isso é assumir que existe um modo de pensar geral dos adultos e que esse modo é melhor que outros. Finalmente, quem sou eu pra falar de maturidade, aqui do alto dos meus quase quatro lustros de vida? Logo eu, que ainda to aprendendo a crescer.

Saber o modo correto de agir, quer seja ele com a seriedade de um adulto turrão ou com a pirralhice de uma criança, é uma daquelas coisas que eu não tenho grande pretensão de descobrir, a não ser quando eu estiver bem velhinho e olhar pra trás. Agora, porém, não faço idéia do que é ser madura. Quem souber me explica, por favor..

Ou me arruma uma moeda