"Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver.
Acabara-se a vertigem de bondade.
E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia."
Afastando-a do perigo de viver!
Esse é um trecho de um ótimo conto de Clarice Lispector (Amor), que fala sobre como nos protegemos da realidade, nos fechando em nossas vidinhas rotineiras e confortáveis. É de fato muito difícil e doloroso sair dessa nossa letargia e começar a sentir algo. É bem mais fácil viver sem ter que se importar com sentimentos. Viver é fácil de olhos fechados.
Esse post já estava na minha lista de rascunhos há uns seis meses. Mas faltava algo nele pra poder postar.
Daí ontem eu assisti, finalmente, ao filme "Equilibrium". Com referências explícitas à 1984, a película apresenta uma sociedade que se droga para não sentir. Assim, bem parecida com a nossa. Não temos Prozium II, mas consigo pensar em um monte de coisas que usamos para substituí-lo.
Tomar a iniciativa, no filme, de abandonar os dogmas sociais e pôr de lado sua dose pontual de Prozium II era um ato de extrema coragem e loucura. É preciso ter coragem para sair da prisão em que nós mesmos nos colocamos, pra fugir desse medo de amar. Essa coragem, quase platônica, me parece praticamente inalcançável... Ao mesmo tempo, isso é loucura; acordar em um meio estéril, metódico, minimalista, opressor e irritantemente descolorido, é como pedir para surtar! Não havia escolha, no filme, além de fazer parte daquela sociedade sem sentimentos ou se tornar um pária dissidente. Sentir, em uma terra de insensíveis é uma tortura. Só posso imaginar a angústia de ver tudo tão igual, tudo tão apático, na pacífica cidade de Líbria.
Acabara-se a vertigem de bondade.
E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia."
Afastando-a do perigo de viver!
Esse é um trecho de um ótimo conto de Clarice Lispector (Amor), que fala sobre como nos protegemos da realidade, nos fechando em nossas vidinhas rotineiras e confortáveis. É de fato muito difícil e doloroso sair dessa nossa letargia e começar a sentir algo. É bem mais fácil viver sem ter que se importar com sentimentos. Viver é fácil de olhos fechados.
Esse post já estava na minha lista de rascunhos há uns seis meses. Mas faltava algo nele pra poder postar.
Daí ontem eu assisti, finalmente, ao filme "Equilibrium". Com referências explícitas à 1984, a película apresenta uma sociedade que se droga para não sentir. Assim, bem parecida com a nossa. Não temos Prozium II, mas consigo pensar em um monte de coisas que usamos para substituí-lo.
Tomar a iniciativa, no filme, de abandonar os dogmas sociais e pôr de lado sua dose pontual de Prozium II era um ato de extrema coragem e loucura. É preciso ter coragem para sair da prisão em que nós mesmos nos colocamos, pra fugir desse medo de amar. Essa coragem, quase platônica, me parece praticamente inalcançável... Ao mesmo tempo, isso é loucura; acordar em um meio estéril, metódico, minimalista, opressor e irritantemente descolorido, é como pedir para surtar! Não havia escolha, no filme, além de fazer parte daquela sociedade sem sentimentos ou se tornar um pária dissidente. Sentir, em uma terra de insensíveis é uma tortura. Só posso imaginar a angústia de ver tudo tão igual, tudo tão apático, na pacífica cidade de Líbria.
3 comentários:
Equilibrium é um dos melhores filmes que eu assiti, tanto que eu fiz de tudo pra te fazer assistir.
1984, mas com artes marcias com armas de fogo.
Acho que 1984 é ainda mais punk, porque os caras não tem a droga pra se anestesiarem.
Nunca vi o filme.
Postar um comentário