segunda-feira, 5 de maio de 2008

Instantes na taverna

_ Toma, meu caro Solfieri, bebe do cálice de Mnemósine e acaba com teu sofrer. Apaga de tua mente o passado escuro e foge ébrio nos braços do torpor.

_ Desista Johann, da taça amarga que bebeste não beberei. Não quero esquecer. Tu não te lembras mais das dores, mas perdeste também os momentos alegres. Não hei de perder aquele doce verão.

_ Tolo, prefere então viver com teu coração partido?

_ Meu coração não está partido, meu caro. Eu costumava acreditar que cada perda me daria uma nova cicatriz no coração. E que cada uma delas acabaria por torná-lo mais e mais insensível e duro. O que me aconteceu porém foi bem diferente. Em cada decepção eu via meu coração se quebrar em pedacinhos, mas quando eu juntava ele parecia maior, como se alguns pedaços ouvessem sido acrescentados...

_ Que falas, louco? Não estás triste então?

_ Lógico que estou, irmão. Mas essa dor que me fez crescer. São essas lembranças, as boas e as ruins, que me fazem o que sou hoje. Não esquecerei do meu amor. É tão bom lembrar de como ela me deixava trêmulo quando vinha até mim com aquele caminhar oscilante, sorrindo com seus grandes olhos negros a brilhar. Ou, mais tarde, do transe em que ela me deixou, encarando-a quando percebi que a amava. Ou lembrar de seus pequenos olhos. Tão escuros que me intrigavam e que guardavam, cada um, uma singela estrela. Essas memórias, Johann, não quero perder.

_ Hunf, memórias de amores perdidos... não acredito mais nisso, bom Solfieri. Tornei-me um cético.

_ Não são amores perdidos. Todos eles estão muito vivos! E não perderei nenhum deles. Ou tu achas que eu não tremo ao ver uma dama que eu amei?

_ Desisto de ti. Não consigo ver as coisas como tu. Por que amar, se não terás recompensa?

_Minha recompensa é um sorriso. Não sou egoísta como tu foi.

_ Eu, egoísta? Por que dizes isto??

_ Não entregaste a ela tua casaca manchada de sangue? E rubro não estava teu colete amarelo?

6 comentários:

Pequeno Grande Homem disse...

Aprendi a catalizar meu amor em coisas que me trazem retorno.

Egoismo, talvez. Proteção.

Comentador Fiel disse...

Aprendeu a catalizar seu amor em coisas que lhe trazem retorno?

um dia eu aprendo também...

Bruna Pereira disse...

Você gosta de weezer também, que legal! hauhaah
É digamos que estou numa fase bem deprimente... =/
Ótimo texto, tô cansada do amor nunca dar recompensas...

Pequeno Grande Homem disse...

aprende, vale a pena ;D

John, O Lobo disse...

Vai Homo faber, torna o amor produto de teu trabalho ¬¬

E quem falou que o amor não traz retorno? Os melhores momentos da minha vida foram aqueles poucos em que eu amei. E isso vale por tudo. Como eu disse pra alguém, vou me arriscar, mesmo que mil vezes. Se apenas uma der certo, vai ter valido a pena.

Pequeno Grande Homem disse...

lol

é, acho que a gente confunde amar com se entregar, quando amor era pra ser receber aquele que se entregou =P