quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Homem e o Lobo

O homem, sentado à sombra de uma árvore, olhava o céu.
_ Viu, eu te avisei. _ Disse displicente, enquanto enrolava nos dedos uma pequena mecha de cabelo. À esquerda, sobre um um raíz que se projetava pra fora da terra, um velho lobo deitado ergue preguiçosamente a cabeça e responde rouco: _ Cale-se, pelo menos eu tentei fazer algo._ e abaixa novamente a cabeça.
_ Calma, não quis ser chato. Desculpe, acho que sei o que você sente. Sabe, estive pensando...
_ Grrr, pensando... Você faz isso o tempo todo. Enche o saco.
_ Rá, rá. Deixe-me terminar. Nós sempre discordamos nesse assunto. Mas acho que dessa vez você fez bem.
_ Hunf. Obrigado...
O lobo levantou-se e aproximando-se do homem continuou: _ Prometa-me meu amigo, se novamente eu perder o controle, você vai me segurar, com essas correntes que nos unem. Não deixe novamente que eu corra tanto risco. _ Ao que o homem respondeu: _ Meu irmão... não posso prometer isso. Não podemos deixar que o frio volte. Não se esqueça de que eu não tenho a capacidade de lidar com o mundo lá de fora como você. Minhas decisões são acertadas, calculadas de modo a minimizar as dores. Mas também minimizam os prazeres.

Um uivo longo. Então o lobo responde: _ A selvageria é minha natureza. Não posso fazer nada senão agir.Você é meu freio, se não fosse por você não haveria remédio pra tantos erros que eu cometi. Mas creio que este não foi um deles. Não vejo como uma derrota. Foi bela a batalha e estou orgulhoso de tudo.
_ Certamente não foi. Veja, se você peca por cometer muitos erros, mais peco eu por temê-los demasiadamente. O medo de errar me impede de agir. Assim, se te sobram derrotas, me faltam vitórias. Mas fique firme, esta curta batalha foi intensa e atordoante, porém dela não saístes de outra forma senão mais forte. E mais decidido. Acredite, em breve você fará bom uso do que passou.
_ Estou bem, meu irmão. Jogar com as palavras é trabalho seu, só posso te inspirá-las. Meu jeito é dizer claramente o que sinto, e não me arrependo nunca de ser como sou. Agora, toque mais uma vez aquela música, amigo.

O homem pegou então um violão que estava caído no chão ao seu lado. Dedilhou uma música tão bela que até as estrelas se aproximaram para ouvir. O lobo, emocionado com a melodia, uivou alto e seu pêlo prateado brilhou sob a luz do luar. Com os olhos úmidos disse: _Em breve meu amigo, eu volto. E partiu, desaparecendo na bruma.

Uma lágrima caiu sobre o violão. _ Ah, a quanto tempo eu não vejo uma dessas!_ Disse enxugando os olhos. Parou de tocar. Respondendo ao seu amigo que acabara de partir, pensou: "Até logo, sei que nos veremos novamente mais rápido que imaginamos. Deixe que por enquanto eu tomo conta daqui."
Então levantou-se, bateu a poeira e saiu.

**Quem será que entenderá?**

3 comentários:

Ilana Kenne disse...

O texto está lindo e a conversa entre os dois é cheia de lições. Mas confesso que não entendi, algumas coisas ficaram falhas. Não que isso seja um defeito. Dá um charme.Permite que eu imagine o que quiser...

Parabéns,John.=]

Comentador Fiel disse...

Vou chutar, o Lobo são seus instintos e o homen sua racionalidade, e esse texto está relacionado a como o equilíbrio entre os dois é bénefico e como cada um tem fraquezas e vantagens. Por exemplo,nos trechos em que o homem diz ser grato ao lobo por lhe fazer arriscar ou quando o lobo diz que o homem lhe controla o ímpeto, e posto em reflexão de que quando as duas coisas estão em equilíbrio, as atitudes são mais acertadas ( ou não). POr fim, também é explorado no texto o fato da dependência entre ambos, simbolizada na corrente.

É impressão minha ou a escolha do lobo não foi atoa, Ookami.

ps:dê uma olhada no meu Blog, o Pelé olharia.

Nanda disse...

Ah, eu entendi direitinho...
Em alguns momentos até me perguntei se havia alguma indireta... Hauhauha, mas enfim. Lindo texto. Muito verdadeiro.
Continue sempre assim, melhor do que euzinha.
=**