quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Vitória sangrenta



Naquela ensolarada manhã de março, as crianças brincavam na grama e os pássaros cantavam. Nossos escudos decoravam as salas, e nossas espadas estavam rombudas, encostadas pelos cantos. Achávamos que aquela seria uma primavera tranquila, como sempre. Porém os deuses tinham outros planos para nós.

Os primeiros sinais chegaram com a fumaça, vinda da fronteira norte. Depois com os mensageiros que disparavam pela estrada em direção ao Caër. Inconscientemente, todos se preparavam para o que viria, e antes que qualquer ordem fosse dada, todas as espadas da aldeia estavam afiadas e prontas para o combate.

Logo vieram os homens do Rei, convocando todos os guerreiros. Eu já havia lutado pelo meu povo antes, mas há anos os lanceiros não eram necessários, e os mais jovens nunca haviam experimentando o frenesi da batalha.

Fomos levados a um acampamento no norte, a três dias de viagem das nossas casas. Próximo demais. Não sabíamos exatamente quem era o inimigo, algo comum na vida de um lanceiro. Provavelmente um dos muitos povos que viviam nos planaltos congelados do norte.

Durante semanas ficamos inertes no acampamento, até que uma alvorada rubra nos trouxe hordas de inimigos. Uma coneta soou e eu reuni os poucos homens que comandava, nos juntamos ao resto do exército e marchamos, prometendo aos deuses sangue, dos inimigos ou o nosso. Formamos uma parede de escudos e encaramos o invasor. Milhares de homens barbudos e altos brandiam machados, ocupando os morros além de nossas vistas. Então avançamos.

Eu estava na primeira fila da parede de escudos e quando os exércitos se chocaram fui esmagado pelo peso dos homens das fileiras de trás, me empurrando contra o inimigo. Usei minha lança na barriga de um lanceiro invasor, e a deixei lá. Fiz força e abri espaço suficiente para sacar minha espada, quando uma lança encontrou um brecha entre os escudos e passou abaixo do meu braço, atingindo o lanceiro atrás de mim. Senti o odor de hidromel no hálito do oponente à minha frente e o encarei, antes de golpeá-lo no rosto com a espada. Avancei pela brecha deixada por ele, mas fui parado por enorme nortista agitando um machado duplo. O bárbaro me atingiu o escudo com força e cai de costas. Então ele ergueu o grande machado para um segundo golpe e nesse momento estoquei com a espada e atravessei seu peito.

Durante todo o dia lutamos com a paixão e o furor necessários à guerra. Nossas espadas brilhavam vermelhas e nos sentiamos como mensageiros da morte. Muitos amigos morreram, mas o campo estava banhado em sangue inimigo. Nossa promessa aos deuses estava cumprida.

Festejamos à noite e partimos ao alvorecer. Saíamos de um inferno para cair em outro. Encontramos mulheres e crianças mortas. As cabeças dos lanceiros que haviam ficado para guardar a aldeia enfeitavam sinistramente o portão quebrado. Aparentemente um grupo de nortistas contornara nossas forças, atacando as vilas desprotegidas mais ao sul. Eles queimaram nossas casas, mataram nosso povo e levaram o que sobrou para o norte.

Diante daquele horrendo cenário, muitos choraram. Mas eu não. De todas as lições que recebi como lanceiro, a mais importante é que às vezes vencer significa festejar com hidromel e mulheres, mas que quase sempre a vitória tem um leve gosto de sangue.


Mais enxuto esse né? Escrevi a bastante tempo naquele veeelho caderno.

2 comentários:

Comentador Fiel disse...

Hum tanto sem coração.


E parece que falta alguma coisa ao texto, parece imcompleto...

de resto, tá bem legal.

Diaz disse...

Não sabia que era um guerreiro, joe!!!

Mas enfim, enfim...
Devia pensar em publicar um livro algum dia...
sua imaginação é boa e você escreve bem.
Certamente você não ficaria rico, por que no Brasil só o Paulo Coelho consegue ficar rico como escritor, mas ficaria imortalizado na ABDL. Hahahaha!