quinta-feira, 3 de julho de 2008

Conto de um coração gelado - Parte II

Ouçam, ouçam todos, pois o conto trágico do bom bardo ainda há de terminar. Irmãos na fé, sócios na lei, companheiros na fome, rivais no amor. Ouvi todos agora o fim do conto de um coragão gelado.

Da fera os olhos brilhavam rubros, e a princesa, inerte em horrores turvos, de suas presas pendia dormente. À um suspiro da morte, de que a separava o bardo, somente. E no derradeiro fim, quando a fera vil, sangue real derramaria assim, Pyrlig tocou sem notar um acorde de desespero. A besta então parou e o bordo percebendo, continuou. Tocava lindas canções sobre amores e tragédias, guerreiros e princesas, cravos e camélias. Todo o furor de seu coração vibrava naquelas cordas e mantinha o lobo preso, em curiosa contemplação.

Durante horas tocou o bardo, que com o sangue de suas mãos, alimentou as musas que lhe decidiam o fado. Porém a noite fria castigava, e a exaustão lhe dominou. Por um segundo seus olhas se fecharam e a melodia vacilou. A fera saída de se transe rosnou, e um movimento de sua boca enorme fez gemer de dor a alva princesa. Pyrlig, ao ouví-la, recobrou energias e com musica a acalmou.

Mas o tempo mostrou a Pyrlig que saída não havia. o vento gelado da madruga os fios da via lhe cortaria. Já não podia mais mexer-se e seus dedos queimavam em dor. Não podia continuar, era o fim. Não haveria próximo acorde. Mas a sorte da princesa não a traiu, e velozmente pela estrada, em armadura brilhante e cavalo branco, um cavaleiro surgiu. Sua montaria do bardo desviou, e perante sua lança o lobo caiu. Tomando a princesa nos braços, o valente cavaleiro se ergueu. E com sensata urgência à cidade a levou.

Sozinho restara o bardo, sem forças para caminhar. Nos seus olhos, uma lágrima se fez cristal. O frio lhe tomva a vida. Não podia sentir suas mãos, seu rosto, seu peito, seu coração. E ali mesmo, em uma floresta esquecida pelos homens, morreu o poeta. Morreu com a dor de no fim falhar. Morreu fazendo a escolha certa. Morreu feliz por ter sua vida concedido à princesa, por uma chance de ser feliz. E até hoje, quem se atreve a viajar por aquela estrada antiga, ouve o som doce de um alaúde que sofre, e convida a ouvir sua história, que a todos comove.

E hoje no castelo do rei, um novo bardo faz a lei. Pois canta as palavras que nos sonhos do soberano ecoarão. Há música, e riso, alegria e esquecimento, o fogo continua a aquecer a sala. E um novo bardo canta as tristezas do mundo passado. Um bardo que não é ninguém senão este que aqui vos fala.

Fim

5 comentários:

Unknown disse...

Tenho que confessar que esse conto me lembrou aquele do Oscar wilde: O rouxinol e a rosa, por conta do extremo sofrimento sem a recompensa no final.

Rábula disse...

Ah nem...

Comentador Fiel disse...

so eu que achei que ia terminar assim?

John, O Lobo disse...

A própria vida é um clichê.
O que vc esperava? Final feliz?

Comentador Fiel disse...

mas é lógico que não, eu esperava exatamente isso, pot isso eu te mandei aquela tirinha no orkut.